Caixas de supermercado são um ambiente propício a desentendimentos e até brigas. Talvez as pessoas cheguem ali, depois da navegação pelas gôndolas e do susto com os preços, sempre crescentes, já com pouca paciência.
Há uma semana, estava eu com o carrinho cheio de compras ancorada na fila de atendimento prioritário, quando chega uma moça, com dois itens de compra e me diz : “Este não é o caixa para carrinhos cheios’. Expliquei a ela, com calma, que o critério ali era a quantidade de anos já vividos e não de mercadorias compradas e lhe mostrei o caixa rápido. Ela se afastou contrariada.
Hoje foi pior. Estava eu novamente aguardando minha vez no caixa de prioridades, quando se aproximou uma senhora e me pediu para olhar o carrinho dela, enquanto ela ia buscar alguma coisa que precisava incluir nas compras. Fui avançando devagar para o caixa, puxando também o carrinho da tal senhora, para que ela não perdesse o lugar na fila, bem atrás de mim.
Eis então que chega uma outra senhora. Entrou na fila e alguém lhe disse que o segundo carrinho não era meu. Expliquei que estava temporariamente cuidando dele. Retorna, então a dona do carrinho sob meus cuidados. Mas a senhora recém-chegada se contrariou. _ “O meu carrinho já estava aqui, esteve aqui do lado todo o tempo.
_ “Não estava não, ponderou a outra”.
_ Você está dizendo que eu estou mentindo ? Que meu carrinho não estava aqui? Eu processo você por calúnia. “
Eu continuava no meu posto na fila, ouvindo-as. Eu e muitas pessoas que também estavam prestando atenção à briga.
Ambas as mulheres olhavam para mim, solicitando uma palavra ou mesmo um gesto de aquiescência, de apoio, uma espécie assim de voto de Minerva , já que eu havia chegado ao local antes delas e, teoricamente, teria testemunhado os fatos, ou seja, haveria de saber qual carrinho estava na pole position.
Como boa mineira, permaneci calada e dei de ombros, para que elas entendessem que eu não ia tomar partido. Até pensei em ponderar que estávamos na véspera do dia das mães e que seria bom que a paz pudesse reinar. Mas fiquei quieta. Aí uma delas , mais exasperada, disse à outra . “Vou deixar a senhora ficar na frente, mas só porque é mais velha do que eu.
Nada pode aborrecer tanto uma mulher que ser chamada de velha.
_ Eu não sou velha, mas eu estou doente. Estou muito doente. “
Nesse momento o caixa ao lado se abriu e me chamaram para iniciar outra fila. Daí não vi o final da altercação. Paguei, peguei minhas compras e fui para o estacionamento, pensando na aguerrida natureza humana.