Educação & Ciência Jornal da Comunidade

Longo caminho a percorrer

 

Na semana do Dia Mundial da Educação, profissionais da área comentam como anda o ensino no país e apontam o que ainda deve ser feito para melhorar a qualidade deste setor estratégico


Thiago Lucas
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Já dizia Paulo Freire que “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Educadores, pesquisadores, cientistas e outros profissionais ligados à área percebem constantemente as mudanças na educação do Brasil e do mundo. Com essas transformações, surgem os novos desafios e demandas no contexto de uma sociedade que se encontra em expansão e em um grande movimento pela democracia efetiva.

Assim, com os olhos treinados de quem convive diariamente com o tema, podem vislumbrar e traçar comentários acerca dos rumos que ela toma em toda a República. Maria Célia Cardoso, especialista em educação pedagógica da Upis, por exemplo, conta que alguns avanços já são perceptíveis, mas diz que o país está em processo de melhorias.

“É inegável que o acesso à educação cresceu. É realidade também que as instituições públicas e privadas estão investindo mais, mas ainda não chegamos numa situação ideal”. Ela acredita que muito da responsabilidade em acompanhar e movimentar a educação brasileira está nas mãos do educador, na autoformação dele, que deve focar o desenvolvimento de competências, o aperfeiçoamento e a inovação.

Gláucia Melasso, coordenadora de ciência da educação e pedagogia do Iesb, avalia essa situação dizendo que ainda há um atraso no campo educacional. Mas concorda com a vitória no acesso à escolarização para as crianças em idade escolar e na redução significativa do número de analfabetos absolutos nos últimos anos.
 
Para ela, o desafio agora é o da qualidade, pois, apesar das melhorias, os índices de abandono e evasão escolar ainda são grandes, gerando uma massa de aproximadamente 60% de cidadãos adultos, analfabetos funcionais que têm dificuldade em utilizar adequadamente a língua portuguesa e estratégias de raciocínio lógico-matemático em seu cotidiano.

Gláucia observa que a questão de buscar a qualidade da educação para todos envolve necessariamente pensar em formar, adequadamente, os profissionais da educação.
 
“O primeiro passo para construir processos de ensino-aprendizagem que realmente cumpram os objetivos propostos e garantam condições de terminalidade – ou seja, conclusão dos estudos – aos alunos se deve muito ao professor, que tem de absorver bem os conteúdos e as metodologias, saber como ensinar, dominar os procedimentos didáticos e metodológicos, planejar e avaliar e utilizar as ferramentas da psicologia e da sociologia que o ajudem a conhecer melhor seus alunos.

Outro fator importante apontado pela coordenadora é de o professor ter acesso e dominar as tecnologias da comunicação e da informação a serviço da educação. Internet, computador, slides, filmes não são mais, no mundo de hoje, acessórios ou luxo. São absolutamente necessários para formar os cidadãos e trabalhadores.

“Hoje em dia estamos na sociedade do conhecimento, em que as tecnologias existem a serviço da resolução de problemas nos mais diversos campos do saber. A escola, como o lugar próprio da formação de seres críticos, formadores de opinião e produtores de conhecimento, é o local onde as tecnologias devem fazer parte do cotidiano da aprendizagem e das relações entre professores e alunos”, enfatiza.

A professora da UnB Stella Maris Bortoni também reconhece os avanços na educação brasileira. Ela diz que, ultrapassado o desafio da escolarização de crianças, jovens e adultos, hoje os objetivos devem se concentrar na forma com que a educação está sendo repassada. E lembra que, antes da década de 90, não havia mecanismos suficientes para avaliar o nível da educação oferecida no país, mas, com o passar do tempo e o surgimento desses mecanismos, pôde-se fazer uma radiografia que aponta os saldos positivo e negativo do sistema.

Em alusão ao núcleo da problemática educativa brasileira, ela explica que hoje há um “estrangulamento da educação”, caracterizado pela falta de estratégias de leitura, proficiência na escrita e na dificuldade das pessoas de fazer operações matemáticas como cálculos básicos, o que acaba incidindo na repetência e na evasão escolar. Para ela, o professor deve estar bem formado e investir principalmente nas séries iniciais por terem papel fundamental nessa primeira fase do processo de aprendizado e alfabetização.

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