Saiba como usar a comunicação para complementar o processo de ensino

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Passar quase 60 minutos escutando uma pessoa falar sem ao menos parar para tomar fôlego não é tarefa das mais fáceis. Imagine só se esse discurso estiver repleto de vícios de linguagens e pausas? Não há bocejos, sonecas e inquietações da platéia que resistam. Você, professor, já ocupou o papel de aluno e sabe muito bem o que isso significa. Agora, do outro lado do jogo, é preciso traçar estratégias para não cometer os mesmos erros de alguns de seus ex-mestres e companheiros de profissão.

O domínio do conteúdo, ao contrário do que muitos imaginam, não é suficiente para garantir o bom desempenho de um docente em sala de aula. Técnicas de comunicação e socialização são essenciais para a construção de uma melhor relação aluno-professor. Não há ensino sem conteúdo e nem sem comunicação. Um elemento é tão importante quanto o outro e sozinhos se tornam superficiais, garante a professora do departamento de educação da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), Suely Galli Soares.

É necessário ponderar que, nem sempre, é isso o que acontece na prática. O excessivo e compulsivo comprometimento com o conteúdo programático, muitas vezes, faz com que as outras etapas do ensino-aprendizagem passem desapercebidas. E a comunicação, na visão de especialistas, é uma das primeiras ferramentas a serem deixadas de lado. Isso porque nem todos os profissionais conhecem o poder da comunicação, que é, inclusive, uma das principais responsáveis pelo fracasso ou pelo sucesso de uma aula, explica o professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia da UFRGS (Universidade Federal de Rio Grande do Sul), William Barbosa Gomes.

É justamente esse o segredo do sucesso das aulas de docentes como o professor de sociologia da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Luiz Guilherme Brom, que coleciona mais de 20 anos de experiência na área acadêmica. Sempre obtive excelentes resultados nas avaliações discentes dos cursos de graduação e pós-graduação. Isso é reflexo do meu comportamento dentro de sala de aula, conta. E a comunicação, segundo ele, é a espinha dorsal de suas aulas. É por meio dessa ferramenta e de suas diversas formas que consigo vencer um dos principais desafios da profissão: o de transformar o processo ensino-aprendizado em algo atraente, sem sequer usar medidas de imposição, revela.

Aliada ou inimiga?

Do mesmo modo que a comunicação pode se transformar em mais uma ferramenta de trabalho para o professor, assim com o giz, o quadro negro e o data-show, também pode ser uma grande barreira entre docente e aluno, comprometendo, inclusive, a qualidade do ensino. E aí, já sabe qual caminho escolher? Se você pretende seguir em direção a uma comunicação eficiente, não basta, apenas, saber falar, escutar, ler e escrever. Há muitos outros aspectos que devem ser levados em conta. E quando se trata de uma exposição ao público os cuidados e as exigências devem ser ainda maiores. Qualquer descuido pode ser suficiente para causar ruído na comunicação, o que significa que a ponte entre o ensino e o aprendizado pode estar comprometida, alerta Suely.

A eficiência do diálogo ou da exposição do professor é o primeiro ponto que deve ser observado. Não é recomendável falar muito rápido ou mesmo devagar. É preciso encontrar um meio termo para que a aula não se torne cansativa e para que o aluno acompanhe o raciocínio de seu mestre, aconselha a pedagoga. Modular a voz e o ritmo do bate-papo também pode ser boa estratégia, principalmente quando o objetivo do professor é quebrar a monotonia da aula e despertar a atenção do estudante.

Além disso, a linguagem deve ser clara, sem soar informal. Não se pode esquecer que a universidade é um ambiente profissional e de produção do conhecimento. Por isso, a comunicação deve ser rigorosa e ao mesmo tempo agradável, confiável e eficaz, informa. Mas a oralidade também tem lá suas armadilhas, entre elas os vícios de linguagem, as repetições de palavras e as frases cheias de lacunas. São detalhes que podem desviar a atenção do aluno e comprometer o objetivo da aula, afirma Gomes. Desta forma, o professor precisa se policiar para não deixar suas manias e seus vícios interferirem no processo ensino-aprendizagem.

Vale lembrar, no entanto, que a comunicação não se restringe à linguagem oral. É possível também se comunicar com os gestos, os olhos, a postura e até mesmo com as atitudes. O professor é o objeto central de uma aula e até o esparadrapo no aro dos seus óculos pode desviar a atenção do estudante, brinca Suely. Diante disso, é recomendável que o docente evite qualquer exagero que escape do objetivo da aula. Também não se pode esquecer que a postura do professor deve ser condizente com o objetivo que a aula se propõe. Há conteúdos que pedem maior descontração; outros já pedem uma seriedade maior. E é aí que deve entrar em cena o discernimento do docente, alerta.

O ideal é que a comunicação do professor esteja ligada, simultaneamente, a todos os sentidos: visual, auditivo e cinestésico (que envolve percepções pelas partes sensoriais). Isso porque cada aluno tem características próprias para assimilar o conteúdo. O professor deve conhecer seus alunos e saber como atender necessidades individuais e do grupo, garante Gomes. Quanto mais canais forem utilizados na comunicação, maior o número de pessoas atingidas.

Além disso, é preciso abrir espaço para que a comunicação seja interativa. Não basta apenas o professor falar. O aluno também faz parte do processo de ensino-aprendizagem e necessita espaço para apontar suas dúvidas e impressões. Uma boa aula é produzida em conjunto. O docente é um orientador e um agente provocador para o conhecimento, pontua o sociólogo Brom. E mais: esse mecanismo pode ser o termômetro da eficiência da comunicação do professor. A comunicação tem que ser constantemente verificada para evitar ruídos. E o feedback da aula é importantíssimo, até para verificar a qualidade da comunicação. Se o aluno não entendeu é porque a comunicação não foi eficiente, conta.

Seja você mesmo

Alguns cuidados e dicas podem contribuir muito para a performance do professor dentro da sala de aula. No entanto, não é preciso que o docente represente uma personagem. Não se pode caminhar em direção da figura do professor performático. Isso pode transformar o ambiente acadêmico em algo superficial, relata Gomes. O docente deve estabelecer estratégias de comunicação de acordo com sua personalidade e suas habilidades. E, assim, construir sua identidade e sua marca profissional.

Gravar as aulas para avaliação posterior é uma boa maneira de identificar erros e descobrir potencialidades. É importante que o professor observe seus comportamentos diante das diferentes situações e esteja atento aos seus sentimentos dentro de sala de aula, descreve Suely. Além disso, nada melhor do que perguntar sobre o seu desempenho para o próprio receptor da mensagem. Converse com os alunos ou peça para que eles respondam a um questionário, sem identificar os nomes, sobre a sua didática em sala de aula, orienta. Mais eficiente do que o auto-conhecimento e a avaliação externa é a experiência. Mas a dedicação e o grau de comprometimento do professor com o sistema são determinantes no seu desempenho final.

 

O que não fazer
- Não ministre aulas sentado, isso pode causar ruídos na comunicação.
- Não fale muito devagar. Você corre o risco de entediar o ouvinte.
- Não fale muito rápido para que o aluno consiga acompanhar o seu raciocínio.
- Evite frases cheias de lacunas, tiques gestuais e repetição de palavras para não desviar a atenção do estudante.
- Atente-se aos vícios de linguagens: eles podem levar o aluno ao desinteresse
- Não seja informal. Lembre-se que você está em um ambiente acadêmico.


O que fazer
- Dê aula em pé, de forma que os alunos possam te enxergar.
- Não fale nem muito devagar nem muito rápido. Dê ritmo à comunicação.
- Utilize todos os canais da comunicação: visual, auditivo e cinestésico
- Estabeleça uma comunicação rigorosa, agradável, confiável e eficaz.
- Crie estratégias de comunicação condizentes com o conteúdo.

 

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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