Fonte: G1
Ana Carolina Moreno
Do G1, em São Paulo
Segundo Portela, o estudo usou dados do Ministério da Educação, mais especificamente os resultados do Saeb de 2005 para a então quarta série (que hoje corresponde ao quinto ano do ensino fundamental). "Fazer pré-escola tem efeitos positivos sobre o aprendizado subsequente", afirmou Portela durante o seminário que antecedeu o lançamento do livro.
A partir das notas da prova de matemática e o histórico de escolaridade indicado pelos próprios alunos, ao responder o questionário sobre quando ingressaram no sistema de ensino, Portela verificou que uma criança que frequentou a pré-escola (dos 0 aos 3 anos e/ou dos 4 aos 6 anos) não só tirou notas mais altas que a média, como também apresentou índices menores de atraso escolar - medido de acordo com a idade da criança e a série em que ela deveria estar matriculada.
Além disso, os estudantes que frequentaram a pré-escola se saíram melhor em termos acadêmicos do que os demais: de acordo com os dados apresentados, esses alunos tiveram desempenho de 0,47 em um índice que varia entre a média zero e o desvio padrão de até um ponto.
Segundo o estudo, especialistas calculam que, durante um ano escolar, o aprendizado do aluno no ensino fundamental avança 0,14 no desvio padrão. Em termos educacionais, explica Portela, o efeito que frequentar a pré-escola tem em uma criança na quarta série equivale, então, a um aumento de aprendizado de três anos na escolaridade.
"A creche tem impacto importante se for boa", afirmou o especialista. Ele citou pesquisas que demonstraram como intervenções educacionais na primeira infância contribuíram tanto para o desenvolvimento cognitivo quanto para o não cognitivo da criança.
O primeiro, explica, diz respeito ao conteúdo aprendido pelo aluno. Já o segundo molda a inteligência emocional das pessoas, como sua capacidade de socialização e se reflete em índices como violência e bom rendimento profissional. Isso, por sua vez, tem impacto na evolução da renda familiar.
"O grau de exposição do aluno à pré-escola importa, a qualidade importa, e os impactos são maiores em crianças de famílias em situação menos vantajosa", disse.
Cálculo do impacto
Daniel Santos, economista do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, apresentou no seminário que antecedeu o lançamento do livro da FGV, em São Paulo, observações feitas a partir de várias dezenas de estudos de casos de pelo menos 13 países.
Segundo Santos, os estudos internacionais, alguns realizados ininterruptamente há mais de três décadas, usam metodologias variadas e são de difícil comparação. Mas todos eles apontam o que neurocientistas têm percebido a respeito da maleabilidade do cérebro nos primeiros anos de vida.
"Se você consegue fazer essa parte bem feita", disse, a respeito da construção das capacidades cognitivas e não cognitivas, "você tem menos trabalho depois". Para ele, "ser bem estimulado hoje facilita aprender e receber estímulo amanhã".