Por Jaime Pinsky: Historiador,

professor titular da Unicamp,

coordenador do livro Brasil: o futuro

que queremos, diretor editorial da

Editora Contexto.

Não tenho prazer em reconhecer, mas

me conformei com a ideia de que nós,

brasileiros, somos maníaco-

depressivos: passamos com facilidade

da alegria máxima, da euforia até,

para a tristeza, o desânimo total.

Estabilidade, moderação e equilíbrio

soam para nós como defeitos de

caráter, não como virtudes oriundas

de uma percepção madura de mundo.

Esse bipolarismo nacional pode ser

até medido em pesquisas sobre

otimismo e pessimismo, satisfação e

insatisfação com relação a diferentes

assuntos.

Agora mesmo, nesse período pós

Copa do Mundo da Rússia, enquanto

alguns apenas revelam sintomas

compreensíveis de Síndrome de

 

abstinência (é duro trocar o encanto

de uma Copa pelo Campeonato

Brasileiro), outros se ocupam em

ridicularizar e odiar um único jogador,

Neymar. Agora ele é o inimigo número

um, o fingidor, o enganador, o cai-cai,

o falso, o blefe. Esse mesmo Neymar,

que apenas um mês atrás era visto

por muitos como o melhor do mundo,

o salvador da Pátria, superior e mais

criativo do que Cristiano Ronaldo e

Messi juntos. Levianamente, o

comparavam a Maradona e até a

Pelé... Confesso que me causa certo

asco ouvir comentaristas esportivos

lembrarem só agora de seus defeitos,

eles que ainda há pouco se davam

conta apenas das virtudes do jogador.

Pois esses oportunistas (e/ou

bipolares) têm grande parte da

responsabilidade pelo fracasso de

Neymar na Copa. Mas não só eles.

Também temos nossa parcela de

culpa.

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