Nesta sexta-feira, 17/07/2020, faz quatro anos do falecimento do Prof. Lauro Morhy (reitor da Universidade de Brasília -UnB, nas gestões 1997-2001 e 2001-2005). Aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele ao longo da sua jornada na UnB sabem do seu carisma, simplicidade, gentileza e preocupação com o próximo.
Como dito há quatro anos atrás: "O professor Lauro amou esta UnB como uma filha. Cuidou da universidade e da comunidade com carinho e dedicação. Era uma referência para os que trabalhavam com ele e continuará a ser inspiração de conduta e de profissionalismo para todos nós. É uma perda imensa para a UnB"[1].
Lauro era determinado e trabalhador compulsivo, mas extremamente cuidadoso no trato com as pessoas. Sua premissa era a conciliação. Tendo vivido e aprendido com indígenas na década de 1960, dizia que era importante "fumar o cachimbo da paz", aparar as arestas em prol de um bem maior. Era agregador e conversava com todos indistintamente. Todos eram igualmente importantes para ele, que não discriminava cargo, título, posição, função ou qualquer característica da pessoa. Nunca presenciamos ele ter sido grosseiro ou descortês com quem quer que seja. Era incansável na defesa e na batalha por uma UnB cada vez mais relevante no cenário local, nacional e internacional.
O espaço aqui é curto para relacionar todos os feitos das suas duas gestões e das demais atuações ao longo da sua carreira na UnB. Mas para destacar alguns marcos registramos a idealização e criação do PAS, a implementação das cotas raciais, a criação da Universidade Virtual do Centro-Oeste, a implantação do Planejamento Estratégico, dos Planos Quinquenal e de Desenvolvimento Institucional, a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas e Serviços em Proteínas, a construção da nova rede de informática, REDUnB, a constituição do Laboratório de Estudos do Futuro, do programa Brasil em Questão, da Biblioteca Virtual, a realização de reformas e construções prediais nas diversas unidades acadêmicas, a criação e desenvolvimento do CESPE como centro de referência nacional em concursos e avaliações, a expansão da UnB, entre inúmeras outras realizações.
Neste quesito da expansão da UnB, ele proporcionou cafés da manhã na Reitoria como estratégia institucional, e convidava parlamentares distritais e federais da bancada do Distrito Federal. Todos eram bem recebidos indistintamente e como ele mesmo registrou: "Lembro-me do apelo em tom amigo, mas histórico, que fiz a todos que iam chegando para aqueles encontros matinais memoráveis: que fique o político partidário de fora e entre o ESTADISTA. A Universidade, o Reitor e os seus projetos são suprapartidários. A proposta de expansão foi bem recebida e logo apoiada por todos. Seguiu-se uma dura luta para obter os terrenos e recursos mínimos necessários. Foi possível construir o campus de Planaltina e encaminhar favoravelmente a cessão de terrenos em Taguatinga, Ceilândia e no Gama"[2].
Nas suas gestões autoridades nacionais e internacionais eram frequentemente recebidas na UnB. Não importava a ideologia, todos eram bem-vindos, e a nossa UnB era respeitada e referenciada como instituição de alto nível. Realizou debates presidenciais no programa Brasil em Questão[3].
Entre as autoridades que estiveram na UnB em visitas oficiais e também como homenageados com títulos honoríficos registramos: Sua Santidade o Dalai Lama Tenzin Gyatso, Prof. Giovanni Berlinguer, Baronesa Helen Kannedy, o escritor José Saramago, Presidente Xanana Gusmão, Presidente Hugo Chavez, Prof. Radna Krishna, bibliófilo José Mindlin, escritor Hélio Jaguaribe, senador José Sarney, , ministro Gustavo Krause,ministro Francisco Wefort, ministro Mario Velloso, Prof. Milton Almeida dos Santos, Profa. Carolina Martuscelli, escritora Lygia Fagundes Telles, antropólogo Julio Cesar Mellati, Frei Leonardo Boff,deputado Chico Floresta,ministro Luiz Bresser Pereira, economista Rafael Greca,os candidatos a presidência Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Luiz Inácio Lula da Silva, inúmeros embaixadores,entre tantas outras personalidades.
Entramos no século XXI como a "Universidade nota A". Conquistamos o título de melhor universidade do país no Exame Nacional de Cursos, sistema do MEC para avaliar o ensino superior. Faixas com a frase: "Sorria, você está na UnB. A universidade nota A" referenciavam a aprovação em 90% dos cursos avaliados, ultrapassando instituições como a USP e a UNICAMP[4]! E em julho de 2000 com a realização da 52ª Reunião Anual da SBPC com o tema "A UnB de ASAS ABERTAS PARA VOCÊ", trouxemos a comunidade acadêmica nacional e internacional para o campus Darcy Ribeiro. Foram momentos memoráveis e pujantes, um belo início da UnB no século XXI.
Optou por não fazer o concurso para Professor Titular pois não achava ético ele, como reitor, concorrer.
Sob seu comando trabalhávamos muito,mas com muita satisfação e orgulho de fazer parte da UnB. As confraternizações de final de ano eram momentos especiais de agradecimento e congraçamento da comunidade UnB.
Prof. Lauro Morhy colocou a UnB à frente do seu tempo e infelizmente nos deixou antes do tempo. Que a sua memória, seus feitos e dedicação para a nossa comunidade UnB sejam sempre lembrados.
Encerrando trago as palavras dele quando foi homenageado como Professor Emérito em 05/12/2006:
"Trabalhemos sempre para que predominem os bons momentos. Cultivemos as boas ideias, os bons ensinamentos e os bons exemplos. O bom exemplo vale mais do que letras mortas e mil palavras ao vento. Sejamos autênticos, sejamos nós mesmos, e não aquele outro que a mídia e as vaidades projetam, pois, quando tudo acaba, vê-se que não se fez nada. O tempo passa, mas com o tempo aprendemos que nós é que passamos. Estas são velhas sabedorias que muitos esquecem ou que não aprenderam.
Amigos, de esperança em esperança exorcizamos o pessimismo, vivemos "pra frente" e construímos o bom futuro. Sem esperança não há sonhos, apenas terríveis pesadelos. Assim acreditando cunhei esta frase, que já compartilhei com todos, e que me alerta e renova a cada dia: "Quando paramos de sonhar, o diabo faz a gente ter pesadelos"[5].
Profa. Dra.Thérèse Hofmann Gatti
(Foi Decana de Assuntos Comunitários das duas gestões do Prof. Lauro Morhy)
Profa. Departamento de Artes Visuais da UnB