A primeira peça de teatro a gente nunca esquece

 

Não sou daquelas avós que têm o privilégio de conviver no dia a dia com todos os netos. Tenho dois netinhos paulistanos e só os vejo quando passo uns dias por lá ou quando eles vêm a Brasília. Mas isso não me impede de acompanhar os seus progressos.  Cada nova habilidade adquirida é uma festa para os pais e para mim, que tenho de curtir a festa de longe.

Ontem soube que Antônio, 25 meses,  o Totó Aranha, da linhagem do Homem Aranha,  já está usando os pronomes pessoais _ “Pra  quem é isso? É pro Totó?” _ “É,  é pra mim”. _ responde sem hesitar.  Ainda se confunde um pouco com os pronomes possessivos:  _ “Isso é seu?” _ perguntam-lhe mostrando o brinquedo.  _ “Não, é meu”, ele se apressa em garantir a  posse sobre o objeto.

E hoje soube que Carolina Smiley, 14 meses, assistiu a sua primeira peça de teatro.  Foi ao teatro ver Cocoricó. 

Comportou-se bem,  como se deve comportar em uma plateia.  Não chorou, nem se agitou, ficou extasiada olhando para os personagens no palco. Tinha acabado de descobrir que o que vê na televisão também pode ser visto ao vivo e a cores, com atores a poucos metros de distância.

Sou fã de teatro infantil. Como uma jovem normalista, no Colégio Bennett, no Rio de Janeiro, nos anos sessenta do século passado,  o teatro era minha principal atividade pedagógica.  Assim que me formei, a diretora, Profa. Sarah Dawsey, convidou-me a  cuidar da biblioteca  infantil do colégio  e a organizar as apresentações teatrais, em que todas as séries  do curso primário se engajavam, na celebração das datas festivas. O colégio contava, e creio que ainda conta, com instalações quase profissionais  para a montagem de peças teatrais. É dessa época, a que eu me refiro como a fase lúdica de minha carreira de professora, a peça infantil de minha autoria que incluí no livro FALAR, LER E ESCREVER EM SALA DE AULA ( Bortoni-Ricardo e Sousa, Parábola Editorial, 2008), na qual conto peripécias de personagens rurais em uma festa de São João , acompanhadas de reflexões sociolinguísticas sobre o relativismo cultural. 

Quando meus filhos eram pequenos, não tínhamos muitas oportunidades de ir ao teatro, mas me lembro de tê-los levado a ver “O fantasminha Pluft” e, se não me engano, também “A Bruxinha que era boa”, duas composições magistrais de Maria Clara Machado.

Alguns educadores não recomendam a encenação de peças infantis como atividade pedagógica na educação infantil e nas  séries iniciais do ensino fundamental.  Acho que se preocupam com um possível constrangimento dos atores mirins. Eu, pelo contrário, penso que, quanto mais cedo nossas crianças se familiarizarem com o teatro, melhor. Seja como atores em encenações improvisadas e espontâneas, ou em pecinhas ensaiadas, ou ainda como espectadoras de teatro com atores humanos, ou com fantoches ou mamulengos. Qualquer dia, quando sentir que me sobra algum tempo, volto a me dedicar ao teatro infantil.

(Salvador,BA, 16022009)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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