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E-BOOKS E LITERATURA DIGITAL » No rastro de Shakespeare. Começou com a digitalização dos clássicos e é um caminho sem volta. Bienal discute impacto dos e-books na literatura e hábitos de leitura, incentivados pela adição de recursos multimídia às obras

Frederico Bottrel - Estado de Minas

Publicação: 13/05/2010 12:08

O pesquisador do livro inteligente, Chico Marinho, entende que o livro digital está aí para ficar e a questão agora é mercadológica - (Beto Novaes/EM/D. A Press)
O pesquisador do livro inteligente, Chico Marinho, entende que o livro digital está aí para ficar e a questão agora é mercadológica
“Ainda é tudo uma grande caixa de surpresas. Mas são surpresas boas, eu acho”. É com otimismo que a escritora, crítica literária e pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda encara os impactos dos e-books e da literatura digital no mercado editorial brasileiro. Na próxima terça-feira, às 17h, ela participa de debate sobre o tema, ao lado de Chico Marinho, o professor do projeto do livro inteligente, na Bienal do Livro de Minas. Para Heloísa, a possível popularização dos e-books pode ajudar a criar, entre os brasileiros, o hábito da literatura de entretenimento, positiva para a indústria: “Não temos essa tradição por aqui, onde literatura é algo ainda distante para muita gente”.

Ela chama a atenção para o fato de que as grandes obras sejam justamente aquelas disponibilizadas gratuitamente na maior parte das bibliotecas digitais. Enquanto é acalorada a discussão sobre os direitos autorais, Shakespeare e Machado de Assis se esbaldam no domínio público e são os primeiros a povoar os leitores eletrônicos dos que desconfiam da transação comercial.

De uma maneira ou de outra, o caminho da digitalização não tem mais volta, embora seja consenso que nem por isso o livro de papel vai perder o seu lugar. “Muita gente gosta de sentir o cheiro do livro. Isso os leitores eletrônicos não têm”, defende José de Alencar Mayrink, presidente da Câmara Mineira do Livro, uma das organizadoras da Bienal. Para ele, é uma relação parecida com o cinema e o DVD: “O primeiro tem um charme, um chicachicabum”.

Charme por charme, os aposentados LPs e CDs são o principal fantasma. O paralelo com a crise da indústria fonográfica ronda o mercado editorial, que tenta evitar repetir o fracasso daqueles que desdenharam do .MP3 e hoje amargam situação nada agradável. O “chicachicabum” dos CDs deu lugar ao download indiscriminado de músicas, colocando o copyright em situação embaraçosa.

Direitos também protagonizam um dos imbróglios no caso do livros. “A maior inquietação, nessa grande transformação na história do livro que estamos vivendo é a supressão das editoras e livrarias na negociação dos direitos com os autores. Isso já acontece nos EUA, onde grandes conglomerados, como o Amazon, ameaçam comprar os direitos diretamente do autor, vendendo as obras eletrônicas a preços irrisórios”, acredita Guiomar de Grammont, coordenadora da Arena Jovem, o fórum da Bienal que vai debater o assunto.

José de Alencar Mayrink, presidente da Câmara Mineira do Livro argumenta que obras em papel têm apelo eterno, a começar pelo cheiro  - (Cristina Horta/EM/D. A Press)
José de Alencar Mayrink, presidente da Câmara Mineira do Livro argumenta que obras em papel têm apelo eterno, a começar pelo cheiro
Ela lembra que com a indústria fonográfica, as músicas passaram a ser reproduzidas sem nenhum controle, nem mesmo da integridade do CD, já que é possível escolher apenas uma música e esquecer as outras. “Mas apesar da extinção iminente dos direitos autorais, os músicos conseguem viver de seus shows. O mesmo não acontece no caso de um escritor”, lamenta.

No quesito preço, a comparação com o caso da indústria fonográfica também é ameaça. Enquanto iPods e MP3 players eram caros, a desconfiança ainda existia: hoje, um tocador de músicas digitais falsificado custa R$ 30 nos shoppings populares de Belo Horizonte. O preço dos leitores eletrônicos no Brasil ainda é considerado entrave. Todos os aparelhos dedicados à leitura de e-books são importados e custam em média US$ 250 (R$ 440), fora impostos, que podem dobrar o valor. A Gato Sabido é editora nacional que vende seu próprio equipamento do tipo. O Cool-er sai pelo preço final de R$ 750.

“Não compensa duvidar não. Tudo vai depender das estratégias mercadológicas das grandes empresas, mas o avanço da tecnologia e o barateamento dos custos é inevitável”, define Chico Marinho. Se as editoras não entram com força na briga, a pirataria pode tomar conta, segundo Mariana Zahar, diretora da Zahar Editora, que dá os primeiros passos no mercado de e-books, mesmo com incerteza. “É na prática que a gente vai aprender. Não dá pra ficar parado esperando definições enquanto as coisas acontecem”, aposta.

Embora seja um mercado ainda muito pequeno (nos EUA os e-books respondem por 5% das vendas, no Brasil ainda não são nem 3%), as oportunidades decorrentes do comércio eletrônico de publicações podem ser tábuas de salvação para problemas enfrentados pelo setor. “Em 2011, já venderemos livros por capítulos, a preços competitivos com as cópias que são feitas ilegalmente por estudantes. É uma via legal para o estudante consumir a literatura didática”, projeta Mariana. Enquanto isso, as versões eletrônicas dos livros custam cerca de 30% menos que os mesmos títulos impressos.
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