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PORTAL DO FNDE Brasília, 5 de maio 2008.


Já está disponível no sítio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.fnde.gov.br) o catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM 2009). A publicação contém um resumo de todos os livros didáticos que estão disponíveis para escolha dos professores das escolas de ensino médio da rede pública em todo o país. A escolha só ocorrerá em junho, mas os docentes já podem estudar o catálogo para fazer a melhor opção dos livros que serão usados pelos estudantes e professores a partir do início do ano letivo de 2009.

O catálogo resulta de um criterioso processo de seleção das obras inscritas pelas editoras e apresenta uma resenha e a estrutura dos livros, faz uma análise crítica dos seus aspectos conceituais, metodológicos e éticos e sugere caminhos para práticas pedagógicas.

Democratização - A versão impressa está sendo distribuída a todas as escolas, e sua disponibilização na Internet reforça o caráter democrático da escolha do livro, ao possibilitar que todos os professores tenham acesso à publicação.

De acordo com a coordenadora geral dos programas do livro, Sonia Schwartz, a participação do corpo docente é fundamental para o êxito da iniciativa. Buscamos incentivar sempre que os professores se reúnam nesse momento da escolha para, juntos, descobrirem os melhores livros conforme o projeto pedagógico e a realidade de cada escola, diz.

Escolha - Realizada exclusivamente pela internet, a escolha de livros didáticos do PNLEM 2009 terá uma primeira fase, de 2 a 8 de junho deste ano, apenas para as escolas estaduais de Minas Gerais, que optarão por obras de história e química. De 9 a 22 de junho, a escolha será aberta a todo o país, nas disciplinas de língua portuguesa, matemática, biologia, física e geografia.

Em maio, as escolas receberão correspondência com login e senha exclusivos para a escolha, orientação sobre sua formalização e envio ao FNDE e sobre o uso, guarda e sigilo da senha, cadastro do responsável pelo registro da escolha no sistema (só haverá um CPF por escola) e normas de conduta para execução dos programas do livro.

Normas de conduta - Com o objetivo de garantir transparência ao processo e evitar que as editoras pressionem professores e diretores na hora da escolha, o Ministério da Educação baixou, no ano passado, a Portaria Normativa nº 7, contendo normas de conduta a serem seguidas pelos envolvidos nos programas do livro.

Segundo Sônia Schwartz, as editoras estão proibidas de realizar pessoalmente a divulgação ou entrega de qualquer material de divulgação dos livros diretamente nas escolas, após a publicação do resultado da avaliação ou a divulgação dos guias de escolha pelo MECFNDE até o final do período de escolha pela Internet e pelo formulário impresso.

No entanto, a portaria permite que, nesse período, haja divulgação pelo envio de livros, catálogos, folders e outros materiais, exclusivamente por remessa postal, definida como a entrega de materiais de forma impessoal, pelos Correios ou forma equivalente, sem a presença do editor ou seu preposto ou outrem com vínculo funcional evidente com o titular de direito autoral.

A coordenadora geral diz, ainda, que os professores e diretores devem ler atentamente as obrigações das escolas, que estão no parágrafo 5º do artigo 3º da portaria. É muito importante cada parte envolvida saber exatamente como agir para não comprometer a transparência do programa, afirma.

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CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGÜÍSTICA INTERACIONAL PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO CIENTÍFICO (CIÊNCIAS NATURAIS) E O PROCESSO DE ALFABETIZAR LETRANDO

 

A ação pedagógica em sala de aula é dinâmica, altamente dependente do contexto que se vai constituindo. É sempre uma produção conjunta entre professor e aluno, localmente constituída e administrada em tempo real.

Bortoni-Ricardo

 

                O presente trabalho sistematiza os resultados de uma pesquisa, concluída em dezembro de 2007, que investigou o tema Estudo Etnográfico das Contribuições da Sociolingüística à Introdução ao Letramento Científico no Início da Escolarização. A pesquisa se comprometeu com a formação de professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental e foi desenvolvida em uma escola da rede municipal de ensino de Aparecida de Goiânia (GO), entre agosto de 2006 e setembro de 2007. A etnografia colaborativa de natureza qualitativa-interpretativa permitiu a participação da professora titular da sala de aula, formada no curso médio de Magistério e estudante do curso de Pedagogia, atuando como pesquisadora colaboradora. Todas as aulas foram gravadas em fitas VHS e transcritas em Protocolos Interacionais (PI). Os PI são documentos fundamentais na pesquisa etnográfica e servem para identificar, descrever e analisar as rotinas de sala de aula. O principal objetivo dos PI foi o de evidenciar, pela análise de seu conteúdo, os melhores resultados obtidos numa prática de Letramento Científico, descrevendo seqüências de eventos bem sucedidos que permitiram consolidar conceitos que sustentam as bases teóricas da investigação.

            O registro e a descrição dos dados (PI) foram analisados a partir do método da triangulação cruzada. Erickson (1982) sugere que os registros em áudio e vídeo, convertidos em documentos pela transcrição da informação, sejam analisados por esse método para que evidenciem as asserções postuladas. A asserção principal dirigiu-se para a iniciação ao letramento científico e efetiva-se, de forma mais consistente, quando o professor fundamenta sua prática em pressupostos teóricos e epistemológicos da Sociolingüística Interacional.

            A Figura 1 representa a triangulação proposta para a análise de todos os protocolos interacionais que serviram para confirmar ou refutar as subasserções da pesquisa. O objetivo dessa figura é mapear a dinâmica adotada pela triangulação. As hastes do triângulo sustentam as bases teórica e epistemológica da pesquisa: a Sociolingüística Interacional (SI), a teoria da aprendizagem de Vigotsky, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e a ações de Andaimagem, compreendidas como “ajudas” interativas propostas inicialmente por Bruner e posteriormente por Cazden. Portanto, essa tríade forneceu elementos para analise dos resultados da aprendizagem que configuraram como prática de letramento científico.

            A pesquisa constitui um exercício minucioso, extensivo e intensivo da pesquisadora, investigando as contribuições teóricas à prática pedagógica que confirmassem as subasserções postuladas, e para elas todo o esforço se converteu. A fim de consolidá-las, a pesquisadora comparou as concordâncias ou discrepâncias ao conjunto de teorias que fundamentaram o trabalho.

            A sala de aula foi tomada como o ambiente interacional que favoreceu o sucesso dessa prática. A etnografia, por sua natureza qualitativa e interpretativa, permitiu analisá-la como um ambiente de sociabilização entre seus atores, favorável à aquisição aprendizagem, fornecendo elementos para a construção dos protocolos interacionais.

            As aulas representam um exercício incansável da professora-colaboradora em desenvolver um trabalho de andaimagem, configurado com a sobreposição da sua fala à dos alunos, auxiliando-os na construção do pensamento, do seu enunciado, do retorno significativo às perguntas e das intervenções dos alunos nas reformulações, na expansão do turno de fala, ajudando-os, interativamente, na reconceptualização e na ressignificação do conhecimento.

 

As Transformações da sala de sula a partir dos fundamentos da SI

 

            O período de agosto a outubro de 2006 foi dedicado à pesquisa exploratória, à observação participante e às entrevistas. Alves-Mazzotti et al (2004) descrevem algumas habilidades que devem ser desenvolvidas pelo pesquisador nessa fase, como ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com os sujeitos, ter sensibilidade para as pessoas, ser bom ouvinte e ter familiaridade com as questões investigadas.

            Durante a fase inicial da investigação, a pesquisadora preocupou-se em desenvolver a habilidade da “escuta”, especialmente do que se passava em sala de aula, estreitando as relações de confiança entre os atores envolvidos na pesquisa. As entrevistas, as observações e os registros dirigiram os diálogos entre as professoras para o foco da investigação: a “sala de aula” e a possibilidade de transformação da prática pedagógica. Foram definidas três categorias para facilitar a interpretação e a análise do ambiente interacional de sala de aula favorável à aprendizagem: o ambiente de sala de aula, as estruturas de participação e as ações responsivas.

 

A Sala de Aula

 

            A sala de aula, por ser um ambiente fundamental no processo de sociabilização e aprendizagem dos sujeitos-alunos, exige do pesquisador etnográfico um olhar atencioso para sua organização, que poderá facilitar ou não o desenvolvimento da ação educativa.

            Frank (1999), ao aplicar alguns instrumentos de descrição do ambiente de sala de aula em pesquisas etnográficas feitas por seus alunos, apresenta, segundo Jones e Prescott (1978), cinco dimensões para a sala de aula como local de constituição de cultura e socialização: (i) ambiente não estruturadoestruturado, (ii) ambiente abertofechado, (iii) ambiente simplescomplexo, (iv) ambiente inclusivoexclusivo, (v) ambiente móvelestático.

            Foi observado, na fase exploratória da pesquisa, um ambiente “desfavorável” da sala de aula para a introdução de uma prática pedagógica fundamentada na Sociolingüística Interacional. Utilizando-se a descrição de Frank (1999), a sala de aula, inicialmente, foi caracterizada como um ambiente estruturado, a professora fixa frente à sala e atividades restritas aos livros didáticos; ambiente fechado, centrado na rigidez dos métodos e programas; complexo, definido especialmente pelo ritmo de aprendizagem e no padrão de desempenho dos alunos; exclusivo, no sentido de exclusão dos alunos dos processos interacionais muitas vezes por seu nível de competência inicial mostrar-se insuficiente, diferente dos demais, e um ambiente estático, rígido e fixo, composto especialmente por carteiras alinhadas.

            A microanálise do ambiente da sala de aula baseou-se nas características físicas, materiais e interacionais. Segundo o conceito de ambiente, fornecido por Salvador (1999), a sala de aula é um lugar no qual as pessoas podem interatuar frente a frente, facilmente. Os fatores da atividade, do papel e da relação interpessoal constituem os elementos ou componentes desse microcosmo.

            Le Page (1980) compreende que o “outro” não é o interlocutor imediato na interação face a face. O “outro é o grupo de referência, marcado pela presença de um interlocutor, ou por outros elementos do contexto situacional.

            Essa noção de ambiente contribuiu para repensar a sala de aula e torná-la um ambiente propício para o diálogo, para a sociabilização dos alunos e para a socialização dos saberes, ou seja, um ambiente não estruturado, aberto, simples, inclusivo, móvel. A professora, ao fundamentar sua prática na  Sociolingüística Interacional, caminhou para a efetivação de uma Pedagogia Culturalmente Sensível.

            De acordo com Erickson (1987 apud BORTONI-RICARDO, 2005, p. 118),

Uma pedagogia culturalmente sensível é um tipo de esforço especialmente empreendido pela escola, a fim de reduzir os problemas de comunicação entre professores e alunos, de desenvolver a confiança e impedir a gênese de conflito que se move rapidamente para além das dificuldades de comunicação, transformando-se em lutas amargas de trocas de identidade negativas entre alunos e seus professores.

 

            Uma pedagogia culturalmente sensível significa conceber a sala de aula como um ambiente acolhedor e respeitoso das diferenças, onde se estabeleçam relações de confiança entre seus atores, possibilitando que alunos menos experientes sintam-se seguros para expor suas dificuldades, seus erros, com a certeza de que não serão humilhados, e sim, ao contrário, ratificados, já que é um direito dos alunos perguntar e receber a resposta de forma respeitosa. É objetivo da pedagogia culturalmente sensível criar, em sala de aula, ambientes de aprendizagem onde se desenvolvam padrões de participação social, modos de falar e rotinas comunicativas presentes na cultura dos alunos (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 128).

            Portanto, a fase da pesquisa exploratória, da observação e dos estudos resultou na reorganização progressiva e consciente desse ambiente, atendendo à especificidade de cada momento do processo de ensino aprendizagem.

           

Estrutura de participação

 

            A estrutura de participação foi proposta por Philips (1972) e redefinida por Scultz, Florio & Erickson (1982) como sendo padrões de alocação de obrigações e direitos entre os integrantes (apud Bortoni-Ricardo, 2005, p.126). Ela permite definir os papéis desempenhados pelo professor e pelos alunos, estes como ouvintes e como falantes, além das regras para a tomada do turno e para a constituição de pisos de fala.

            Essa segunda categoria beneficiou-se do ambiente interacional para estabelecer regras, definir papéis sociais que favoreceram o processo comunicativo entre os atores da sala de aula, aumentando as chances de obter melhores resultados e efetivar a aprendizagem dos alunos.

           

Ações Responsivas Ratificadoras

 

         A terceira categoria analisada representa estratégias interacionais em sala de aula compreendidas como as atitudes do professor diante das perguntas ou contribuições do aluno. As ações responsivas ratificadoras dizem respeito à sua atitude ética e pedagógica, como mencionar o nome do aluno, aproximar-se dele, expressar-se bem, comunicar-se com os olhos, jamais humilhá-lo. São atitudes determinantes nas relações sociais e no sistema comunicativo para que o aluno possa sentir-se acolhido em sala de aula, nela permanecer e aprender e podem ser altamente positivas à aprendizagem quando dirigem para a expansão do turno, fortalecendo a intervenção do aluno.

            Cazden (1988) observa que essas ações responsivas também podem ser negativas quando dirigem para a correção, no sentido da humilhação e da exclusão. “Uma forma efetiva de o professor conferir a ratificação é dar continuidade à contribuição do aluno, elaborando-a e ampliado-a (apud BORTONI-RICARDO, 2005, p. 197).

            Essas ações podem ocorrer diante da intervenção de um aluno que toma o piso e apresenta uma pergunta pertinente ao contexto estudado. Nesse caso, o andaime pode desencadear uma ação interativa entre o grupo, ou então aluno-aluno. O importante é que o professor seja sensível às intervenções para manter o ambiente interacional favorável à aprendizagem.

 

Protocolo Interacional

 

            A seguir será apresentada de forma sistematizada a analise de um Protocolo Interacional dos dez amplos protocolos que compuseram a pesquisa, com o objetivo de evidenciar que a sala de aula pode tornar-se um ambiente interacional quando são definidos os papéis sociais, a estrutura de participação em que os atores sentir-se-ão seguros para tomar o piso e respeitar as regras definidas pelo grupo.

             

Como a professora introduziu a aula

 

            A professora pesquisadora-colaboradora está trabalhando com os alunos do 2º ano, do Ensino Fundamental. O tema abordado na aula de Ciências Naturais é solo; objetivo específico: os diferentes tipos de solo.

            Para iniciar a aula, a professora organizou sua sala em círculo, convidando os alunos para se sentarem no chão, e passou a conversar sobre as regras de participação, que entre eles são conhecidas como os combinados. Essa expressão constitui-se numa “pista de contextualização”, uma vez que o grupo conhecia as regras nela implícitas.

            Esses “combinados” são configurações que a professora encontrou para definir regras e incluir todos os alunos no desenvolvimento das atividades, tais como levantar o braço, aguardar a vez, pedir a fala (o piso), dando oportunidade para que todos falem e sejam retificados ou ratificados, ensinando-os a respeitar o direito uns dos outros, desenvolvendo atitudes, procedimentos e princípios de cidadania.

            Observa-se, nesse caso, uma mudança no ambiente quando se coloca as crianças em círculo, sentadas no chão, junto à professora. O ambiente deixa de ser estruturado e complexo, não só pela disposição do espaço físico, mas também pelo redimensionamento das possibilidades de interação entre os atores, face a face. A professora não está à frente da sala, presa ao quadro-giz, com alunos alinhados em suas carteiras. O círculo, sem dúvida, cria um ambiente democrático desfazendo o mito de que alunos sentados nos primeiros lugares são concebidos como “melhores” do que aqueles que ocupam as últimas carteiras, sendo que estes têm maior dificuldade para tomar o piso chegando, em alguns casos, a nunca fazê-lo.

            Pesquisadores da etnografia da comunicação, como McDermott, (1982), Brice-Heath (1984 apud BRAGGIO, 2002, p. 41) e Philips (1972) defendem que é imprescindível “arranjar” um ambiente na sala de aula interacional que seja favorável à construção da aprendizagem, ao que é dado o nome de “arranjos estruturais da interação” (apud BORTONI-RICARDO, 2005, p. 185).

       A professora progressivamente constrói esse tipo de “arranjo”, aproveitando as condições favoráveis do espaço físico, do mobiliário móvel, da natureza do conteúdo a ser trabalhado em Ciências Naturais, organizando sua sala num ambiente interacional favorável à participação, à tomada de piso, à demonstração de competência comunicativa dos alunos, à comunicação com olhos, às expressões faciais um com os outros, face a face.

            A teoria vigotskyana de aprendizagem permite à professora diagnosticar o nível conceitual dos alunos e promover andaimes adequados à aquisição da aprendizagem.

 

Como a Professora Conduziu a Aula

 

            Após a organização do ambiente, tendo sido definidas as estruturas de participação e os papéis sociais, há “clima disciplinar” propício para que a aula possa promover resultados satisfatórios.

            Esse protocolo assume-se a seguinte legenda:

            P - Professora colaboradora

            A - Alunos (eventualmente identificados pela inicial do nome)

            + - Pausa de aproximadamente 1 segundo

 

[De início, (P) orientada pela metodologia da problematização levanta o conhecimento prévio dos (A) sobre o tema, com as seguintes questões:].

1. P - Vocês sabem o que é solo?

A (P) investiga os conhecimentos prévios dos alunos através de questões. Inicia o diagnóstico do nível conceitual dos alunos sobre o objetivo traçado.

2. A - Sim, sabemos, é terra.

3. P - Ah! Muito bem! Nós estamos sentados aqui em cima da terra?

4. A -+ Não!

5. P - Em cima de quê?

6. A - ++Do piso!

7. P - Se eu quebrar esse piso, vou encontrar o quê?

8. A - ++O solo, + a terra.

Os alunos já empregam a palavra solo, indicando que houve a compreensão de seu significado. Estamos diante de uma confirmação explícita da aprendizagem.

9. P - Muito bem!

10. P - Qual é a diferença entre solo e terra?

11. P - Vocês acham que é a mesma coisa?

12. A -++ Sim!

A (P) está problematizando, motivando os alunos a investigarem e ampliarem o conhecimento sobre o tema. A palavra que já conhecem é “terra” e ela está introduzindo um item novo em seu vocabulário – “solo” – mostrando-lhes que as duas palavras se equivalem.

 

            No decorrer do episódio, observa-se que o diagnóstico do conhecimento prévio está sendo favorecido com o “arranjo” do ambiente. Com os alunos sentados no chão e em círculo, criou-se um clima informal e emocional, propício para o diálogo. A professora usa esse ambiente para investigar o nível conceitual dos alunos sobre o objetivo traçado. Se a intenção da aula é que os alunos classifiquem tipos de solo, é fundamental diagnosticar se os alunos já construíram o conceito de solo, se há compreensão do seu significado, para então ampliar a ZDP, problematizando em torno do tema, como aparece nos turnos de 13 a 15.

 

13. P - Será que todos os solos são iguais?

14. P - Será que todas as terras são iguais?

15. A -+ +Não!

           

            Os esquemas de conhecimento desencadeiam conflitos sócio-cognitivos que serão resolvidos a partir da produção de andaimes que desencadearam num movimento contínuo de ressignificação e reconceptualização. Esta subasserção encontra sua primeira confirmação, uma vez que vários outros turnos contribuíram para o propósito. A microanálise dos turnos de 16 a 27 convergem para as três categorias que se justapõem em beneficio da aprendizagem dos alunos: o ambiente, as estruturas de participação e as ações responsivas ratificadoras.

 

[Os alunos permanecem em círculo e a professora dá seqüência ao diálogo em torno do diagnóstio do conhecimento prévio.].

16. A - (LF) - Tem umas que são bege

17. A - (L) - + Tem vermelha!

18. A - (L) - Às vezes quando a gente cava acha… encontra minhoca.

Nos três últimos turnos os alunos estão desenvolvendo processos de reconceptualização, demonstrando o seu conhecimento prévio do tema e contribuindo para a progressão da aula.

19. P - É mesmo!

20. A - (LF) E o que mais encontramos na terra?

O aluno assume o piso e apresenta uma pergunta muito pertinente que funciona como um andaime para os colegas. Estamos diante de um andaime aluno-aluno, que motiva outras participações igualmente pertinentes.

21. A - ++(L) Plantinhas, folhas sujas, animais.

22. A - (J) Lá em casa tem terra de toda a cor!

23. P - Olha que coisa importante que a (J) falou! !

A (P) promove ação responsiva e ratificadora diante da fala da aluna, desencadeando uma ação interativa entre os alunos.

24. P - Que na casa dela tem terra de toda a cor!

25. A - (LF) Quais são as cores?

26. A - (J) + Vermelha, cinza...

A fala do (A) indica que a sua ZDP está sendo ampliada quando consegue generalizar o conceito de solo e terra exemplificando as cores de terra que tem em sua casa.

27. P - Muito bem!

 

            Os episódios analisados, enfatizam o processo interacional da sala de aula, a contribuicão da interação face-a-face, dos papéis sociais nas estruturas de participação,  como facilitadores na construção da aprendizagem.

            O planejamento da professora, fundamentado em uma epistemologia Sociolingüística, contribui para melhores resultados no seu trabalho de alfabetização e letramento científico.

            No decorrer desses episódios observou-se:

a)       O contexto situacional da interação permite ao aluno levantar o braço, tomar o piso principal dando a resposta à professora e fornecendo ao grupo um andaime aluno-aluno quando amplia a informação (turnos 16, 17, 18, 20, 21);

b)      O aluno pede o piso (a fala); no vídeo observa-se uma criança tímida e que, para a sua intervenção, o ambiente interacional de sala de aula foi decisivo (turno 22);

c)       Por excêlencia, têm-se uma ação responsiva ratificadora positiva da professora frente à fala da criança. Uma pedagogia sensível, entre outras ações, pressupõe a atitude de “escuta” da professora para todas as crianças, desde as mais participantes às mais timidas , o que constatou-se nos turnos 23 e 24;

d)      A professora, ao ratificar em tom de contemplação a fala da aluna, voltando-se para todo o grupo, fortaleceu o ambiente interacional da sala de aula, desencadeando um diálogo entre dois alunos, o que constitui-se em andaime para o grupo. A análise dos turnos 25 e 26 traz uma preciosa contribuição aos educadores para que reflitam sobre uma prática pedagógica voltada para a inclusão. A criança ratificada pela professora sentiu-se incluída e fortalecida para futuramente ser ator ativo de novas construções de aprendizagens;

e)       O ambiente interacional da sala de aula foi favorável à aprendizagem, permitindo que os esquemas de conhecimento desencadeassem conflitos sócio-cognitivos entre os alunos que se beneficiaram dos andaimes fornecidos pelo grupo para que os processos de ressignificação e reconceptualização fossem construídos (turnos 19 a 26).

 

            A intervenção pedagógica e o monitoramento atencioso da professora são importantes na construção do novo nível conceitual dos alunos.

 

Como a professora conduziu o letramento científico

 

            É importante enfatizar que o significado de letramento científico apresentado neste trabalho baseia-se nos documentos fornecidos pelo PisaOCDE. Para explicar melhor esse significado, os membros dessa instituição partem do princípio de que “o conhecimento científico (conhecimento sobre ciências naturais) e os processos pelos quais esse conhecimento é desenvolvido são essenciais para o letramento em ciências” (OCDE, 2003, p. 42).

            Para a OECD (2003) a definição de letramento cientifico esta intimamente identificada com o processo de educação e de aprendizagem dos indivíduos:

O letramento científico é a capacidade de usar o conhecimento científico para identificar questões e tirar conclusões baseadas em evidências, a fim de compreender e auxiliar a tomada de decisões no mundo natural e nas alterações causadas neste pela atividade humana (OCDE, 2003, p. 133, tradução nossa).

 

            A microanálise dos turnos 28 a 38 dirige-se para estratégias que auxiliarão os alunos a transpor o conhecimento prévio para o conhecimento científico. Essa transposição, balizada na ZDP, conduz aos processos de ressignificação e reconceptualização. Ambos os processos exigem da professora o desenvolvimento de estratégias relacionadas diretamente à organização do conhecimento. Segundo Bortoni-Ricardo,

[...] entre elas [as ações] as que promovem o ensino incidental, decorrente da própria dinâmica interacional, a recapitulação contínua, as associações entre o que é novo e o que já foi visto a exemplificação, a transição de um nível epistêmico abstrato para o mais concreto, enfim, aprendizagem espiral que vai do mais simples ao mais completo e daí retorna ao mais simples (2005, p.229).

 

            A professora, coerente com a metodologia da problematização, realiza um experimento para encontrar resposta ao problema inicial (será que todos os solos são iguais?).

            Hodson (1994) considera como sendo atividade prática qualquer trabalho em que os alunos estejam ativos e não passivos. O experimento é um evento prático para Rosito (apud MORAES, 2003). Experimento significa um ensaio científico à verificação de um fenômeno físico. Portanto, experimentar implica pôr à prova; ensaiar, testar algo.

            Nos turnos 28 e 29, os alunos são convidados a pegar no solo, uma experiência sensorial. O sucesso dessa experiência, em um grupo onde 26 crianças estão participando, está sendo beneficiada com as estruturas de participação, com os papéis socias, com o clima harmonioso e disciplinar.

 

[A professora apresenta três tipos de solo - arenoso, argiloso e humoso -, num recipiente transparente e aberto para que os alunos possam manusear.]

28. P - (LF, J) Vão passar com as amostras de solo e todos vão pegar na terrinha, para ver se são iguais ou diferentes. Vejam se alguma gruda mais na mão, veja se é mais grudenta.

29. A - [Comprovam que os solos são diferentes.].

Os alunos chegam a uma conclusão mediante sua experiência sensorial.

 

            A professora prossegue com o experimento, colocando em teste a densidade do solo. Os turnos 30 a 37 descrevem como o experimento permite aos alunos a transição de um nível epistêmico abstrato para o mais concreto, o que implica uma observação direta. Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que observar, de modo que se colete

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http:educacao.uol.com.brultnot20080502ult105u6473.jhtm
Especialistas do MEC querem mudanças no ensino médio
Um grupo de trabalho formado por especialistas da SEB- MEC (Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação)e do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República estão elaborando um novo projeto pedagógico para o ensino médio.

A intenção do grupo de trabalho é que esta etapa de ensino ofereça ao estudante diversas perspectivas de futuro. Isso significa pensar o ensino médio que garanta ao aluno sólida formação, e possibilite a ele conhecer o mundo da ciência, da cultura, do trabalho e da tecnologia, afirma Marcelo Pereira da Silva, diretor de concepções e orientações curriculares da SEB-MEC. Segundo Silva, o currículo tem sido orientado basicamente para o ingresso no ensino superior.

Formação para o mercado
Uma das possibilidades de oferta do ensino médio discutidas é a integração entre ensino médio regular e formação profissional. Queremos aprofundar esse modelo pedagógico de modo que não se reduza à profissionalização do ensino médio, explica. Segundo Silva, a intenção não é que toda a oferta de ensino médio seja voltada à formação profissional, mas oferecer perspectivas ao aluno interessado em inserção no mercado de trabalho. O ensino médio integrado já é ofertado em centros de formação profissional e tecnológica (cefets) e escolas técnicas.

De acordo com Silva, o que diferencia o ensino médio de caráter profissionalizante do ensino médio regular não é a natureza desta etapa de ensino, mas a ênfase em determinada formação, no caminho profissionalizante ou não. O aluno pode ir para outros campos, da cultura, das artes, da ciência, exemplifica. Na visão dele, o fundamental é que esta etapa tenha como norte uma formação que possibilite aos jovens descobrirem suas possibilidades.

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MEC quer mudar português já em 2009

da Folha de S.Paulo, em Brasília

Uma comissão do MEC elaborou uma proposta para que a reforma ortográfica da língua portuguesa comece a ser implantada no Brasil a partir do dia 1º de janeiro de 2009.

A reforma prevê, entre outros pontos, o fim do trema e de acentos em palavras como vôo, herói, idéia e assembléia do vocabulário dos países de língua portuguesa.

A proposta da Colip (Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa) ainda tem que ser submetida ao ministro Fernando Haddad (Educação), aos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores e à Presidência.

Ela prevê um prazo de três anos para a transição entre a ortografia atual e a prevista pela reforma. Nesse intervalo, as duas normas vigorariam.

Segundo Godofredo de Oliveira Neto, presidente da comissão, a partir do dia 31 de dezembro de 2011, todos os livros didáticos, provas para concurso e vestibulares teriam que estar submetidos às novas regras.

Em comunicado enviado no começo do mês a editoras de livros didáticos, o MEC já exigiu que as obras enviadas às escolas públicas estejam adequadas às mudanças em 2010.

O projeto da comissão prevê ainda a elaboração de um vocabulário da língua portuguesa no Brasil de acordo com as novas regras. Ele seria produzido pela Academia Brasileira de Letras, em conjunto com especialistas dos outros países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

O acordo ortográfico foi firmado em 1991 e aprovado pelo Congresso no Brasil em 1995. Em tese, ele já está em vigor, uma vez que tem, como previsto, a assinatura de três países da CPLP -além do Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

A implementação da reforma, porém, era adiada pelo governo brasileiro devido à não-ratificação por Portugal.

A situação mudou quando, no início do mês, o conselho de ministros do país anunciou o desejo de aderir à reforma --a decisão, porém, ainda tem que ser aprovada pelo Legislativo.

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Educação & Ciência Jornal da Comunidade

Longo caminho a percorrer

 

Na semana do Dia Mundial da Educação, profissionais da área comentam como anda o ensino no país e apontam o que ainda deve ser feito para melhorar a qualidade deste setor estratégico


Thiago Lucas
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Já dizia Paulo Freire que “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Educadores, pesquisadores, cientistas e outros profissionais ligados à área percebem constantemente as mudanças na educação do Brasil e do mundo. Com essas transformações, surgem os novos desafios e demandas no contexto de uma sociedade que se encontra em expansão e em um grande movimento pela democracia efetiva.

Assim, com os olhos treinados de quem convive diariamente com o tema, podem vislumbrar e traçar comentários acerca dos rumos que ela toma em toda a República. Maria Célia Cardoso, especialista em educação pedagógica da Upis, por exemplo, conta que alguns avanços já são perceptíveis, mas diz que o país está em processo de melhorias.

“É inegável que o acesso à educação cresceu. É realidade também que as instituições públicas e privadas estão investindo mais, mas ainda não chegamos numa situação ideal”. Ela acredita que muito da responsabilidade em acompanhar e movimentar a educação brasileira está nas mãos do educador, na autoformação dele, que deve focar o desenvolvimento de competências, o aperfeiçoamento e a inovação.

Gláucia Melasso, coordenadora de ciência da educação e pedagogia do Iesb, avalia essa situação dizendo que ainda há um atraso no campo educacional. Mas concorda com a vitória no acesso à escolarização para as crianças em idade escolar e na redução significativa do número de analfabetos absolutos nos últimos anos.
 
Para ela, o desafio agora é o da qualidade, pois, apesar das melhorias, os índices de abandono e evasão escolar ainda são grandes, gerando uma massa de aproximadamente 60% de cidadãos adultos, analfabetos funcionais que têm dificuldade em utilizar adequadamente a língua portuguesa e estratégias de raciocínio lógico-matemático em seu cotidiano.

Gláucia observa que a questão de buscar a qualidade da educação para todos envolve necessariamente pensar em formar, adequadamente, os profissionais da educação.
 
“O primeiro passo para construir processos de ensino-aprendizagem que realmente cumpram os objetivos propostos e garantam condições de terminalidade – ou seja, conclusão dos estudos – aos alunos se deve muito ao professor, que tem de absorver bem os conteúdos e as metodologias, saber como ensinar, dominar os procedimentos didáticos e metodológicos, planejar e avaliar e utilizar as ferramentas da psicologia e da sociologia que o ajudem a conhecer melhor seus alunos.

Outro fator importante apontado pela coordenadora é de o professor ter acesso e dominar as tecnologias da comunicação e da informação a serviço da educação. Internet, computador, slides, filmes não são mais, no mundo de hoje, acessórios ou luxo. São absolutamente necessários para formar os cidadãos e trabalhadores.

“Hoje em dia estamos na sociedade do conhecimento, em que as tecnologias existem a serviço da resolução de problemas nos mais diversos campos do saber. A escola, como o lugar próprio da formação de seres críticos, formadores de opinião e produtores de conhecimento, é o local onde as tecnologias devem fazer parte do cotidiano da aprendizagem e das relações entre professores e alunos”, enfatiza.

A professora da UnB Stella Maris Bortoni também reconhece os avanços na educação brasileira. Ela diz que, ultrapassado o desafio da escolarização de crianças, jovens e adultos, hoje os objetivos devem se concentrar na forma com que a educação está sendo repassada. E lembra que, antes da década de 90, não havia mecanismos suficientes para avaliar o nível da educação oferecida no país, mas, com o passar do tempo e o surgimento desses mecanismos, pôde-se fazer uma radiografia que aponta os saldos positivo e negativo do sistema.

Em alusão ao núcleo da problemática educativa brasileira, ela explica que hoje há um “estrangulamento da educação”, caracterizado pela falta de estratégias de leitura, proficiência na escrita e na dificuldade das pessoas de fazer operações matemáticas como cálculos básicos, o que acaba incidindo na repetência e na evasão escolar. Para ela, o professor deve estar bem formado e investir principalmente nas séries iniciais por terem papel fundamental nessa primeira fase do processo de aprendizado e alfabetização.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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