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Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.



 

 

Categoria pai: Seção - Notícias

Você, Educacionista
Artigo publicado no jornal O Globo, no dia 16022008
Cristovam Buarque *
www.cristovam.org.br


Navio negreiro foi escrito por Castro Alves em 1868, anos antes de Joaquim Nabuco escrever O Abolicionista. Foi o poeta quem despertou o Brasil e divulgou a mensagem dos abolicionistas. Durante o regime militar, foram os poetas e cantores que nos acordaram para a democracia. Na semana passada, 120 anos depois da Abolição, os poetas voltaram às ruas com outra bandeira: o educacionismo.

A escola de samba Vai Vai, de São Paulo, cantou a educação como saída para o futuro do Brasil. No desfile das campeãs, carregou uma imensa bandeira do Brasil com o lema Educação é Progresso, no lugar de Ordem e Progresso.

O Thobias Nascimento e os passistas da Vai Vai não são os únicos educacionistas no cenário brasileiro. O desfile foi inspirado no empresário Antonio Ermírio de Moraes, um educacionista que defende a educação como saída para o Brasil. Seu livro tem um título que lembra Castro Alves: Educação, pelo amor de Deus.

Jorge Gerdau é outro empresário educacionista, que há anos investe parte de seus recursos em educação. É um dos promotores do Compromisso de Todos pela Educação, que mobiliza a consciência nacional e de nossos dirigentes para a importância da educação.

Milu Vilela é uma educacionista que faz companhia ao Gerdau na direção do Compromisso de Todos pela Educação. E a isso tem se dedicado há anos, usando sua energia e influência, procurando apoio, incentivando bons professores, bons secretários estaduais e municipais.

Viviane Senna é outra educacionista. Usa obstinadamente seu prestígio para lutar pela educação. Não só pressionando politicamente nossos dirigentes, e investindo, por meio da Fundação Ayrton Senna. Tive o privilégio de visitar sua experiência na Zona da Mata pernambucana e assistir a recuperação de crianças que tinham ficado para trás, abandonadas pelo governo, pelas famílias e por si próprias, como casos perdidos do ponto de vista educacional. Já começavam a constituir o contingente de analfabetos adultos, quando seu programa trouxe-as de volta à esperança.

Xuxa, uma das mais conhecidas artistas brasileiras, é quase desconhecida no que se refere ao seu trabalho como educacionista na Fundação Xuxa Menegel, onde atende 350 crianças, desde a primeira infância, e suas famílias, em um total de 2 mil pessoas. Rodrigo Baggio é um educacionista que se dedica desde a adolescência à tarefa de promover a inclusão digital que deveria ser feita dentro das escolas. Denise Valente dirige uma rede de 40 escolas da maior qualidade mantidas gratuitamente pela Fundação Bradesco, que atende mais de 109 mil alunos anualmente. Antônio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio, inaugura, no Rio de Janeiro, dia 19, a ESEM, a Escola Sesc de Ensino Médio, uma instituição com internato de alunos e professores.

Jorge Werthein, José Roberto Marinho, Severiano Alves, Cláudio de Moura e Castro, Nizan Guanaes ¿ o Brasil está cheio de educacionistas, adjetivo que ainda não existe nos nossos dicionários; militantes do educacionismo, substantivo que os nossos dicionários ainda não adotaram, mas já tem significado: a doutrina que considera a educação como vetor fundamental do progresso, defende que a utopia não vem da desapropriação do capital dos patrões para os empregados, mas sim de colocar os filhos dos empregados na mesma escola dos filhos do patrão.

A enorme bandeira do Brasil que os integrantes da Vai Vai carregaram no sambódromo paulista, com o lema Educação é Progresso, mostrou que o movimento educacionista começa a crescer, no século XXI, como no século XIX, um movimento inicialmente muito pequeno cresceu, com o nome de abolicionista. Eles queriam que todos brasileiros fossem livres da escravidão; nós queremos que todos os brasileiros tenham acesso a uma escola de qualidade, único caminho para serem livres.

Falta fazer com que os educacionistas de hoje se transformem em um exército. Por isso, seja um educacionista, você também.
 

Categoria pai: Seção - Notícias


Se Duas Caras ataca a organização estudantil e apresenta como modelo de comportamento a obediência bovina, acrítica e despolitizada dos bons alunos da Universidade Pessoa de Moraes, o tratamento que dá à favela da Portelinha não é muito melhor. (..) Duas Caras (...) nada de braçada no preconceito. Dificilmente será lembrada no futuro, pelo que fez ao avanço da democracia no Brasil.

Por Gabriel Priolli, no Observatório da Imprensa


O ex-presidente da Radiobrás Eugenio Bucci, arguto pensador da mídia, já observou que a telenovela revela mais do Brasil do que o telejornalismo. Enquanto este enfrenta uma enorme multiplicidade de fatos, está sujeito a toda sorte de pressões e utiliza técnicas de abordagem que privilegiam a frieza de análise, o distanciamento crítico e a isenção possível, aquela opera no registro oposto.

Seleciona aspectos da vida social e trata deles de forma apaixonada, visceral, pelas ações e conflitos de um grupo de personagens. É dessa forma que o Brasil real emerge, com mais clareza, do microcosmo pulsante dos folhetins do que do caos entorpecente do noticiário.

Bucci refere-se à telenovela em geral, ou àquela que busca realismo em suas tramas, mas visa particularmente a novela das 9 da Rede Globo, ainda hoje, como há quase 40 anos, o principal produto da televisão brasileira pelo volume de audiência, faturamento comercial e importância na estrutura da programação.

Se a sua tese é correta, como parece, é muito preocupante o retrato do Brasil que nos oferece o título atual em exibição no horário, Duas Caras. Delineia-se ali um perfil de regressão geral no debate democrático e de fortalecimento do pensamento único, ou do pensamento conservador que a máquina coordenada da mídia quer fazer passar por verdade universal.

O esfacelamento da diversidade no jornalismo é fato notório, desde que os grandes veículos deixaram de ter em seus quadros gente das mais variadas tendências ideológicas, preferindo dar espaço a uma infinidade de vozes que, com raríssimas exceções, apenas ecoam o pensamento liberal e fazem proselitismo de seu ideário, em absoluta sintonia com a perspectiva patronal.

Agora percebe-se que os colunistas de política e economia, os editorialistas, os articulistas amigos e demais zeladores do pensamento único ganharam a companhia dos autores de telenovelas. Ou, ao menos de um peso-pesado entre eles, o consagrado Aguinaldo Silva, regente da orquestra de redatores de Duas Caras.

Acusação oportunista

Antigo militante do progressismo, editor do primeiro jornal voltado à defesa dos homossexuais no Brasil (Lampião da Esquina, anos 1970), Aguinaldo Silva é agora o patrono de uma verdadeira ode ao conservadorismo, entoada ao público em capítulos diários. O tratamento que vem dando a alguns conflitos seriíssimos do cotidiano carioca, foco de sua novela, está carente de equilíbrio e longe de permitir ao telespectador um julgamento isento do que lhe é oferecido.

Algumas situações e personagens são construídos por uma ótica muito restrita, totalmente discutível, que não por acaso é a mesma com a qual são pautados os produtos jornalísticos da grande imprensa, em geral.

Nos últimos dias, uma parte importante da trama gira em torno de uma acusação de racismo ao reitor Francisco Macieira (José Wilker), recém-entronizado no comando de uma instituição particular de ensino, a Universidade Pessoa de Moraes. Figura de proa na esquerda revolucionária, exilou-se em Paris durante a ditadura militar e lá permaneceu depois da redemocratização do país, trabalhando como professor, até encontrar a proprietária da universidade, iniciar um romance com ela e receber o convite para voltar ao Brasil.

Macieira chega à UPM como um demiurgo da modernidade, um reformador avançado. Rapidamente entra em conflito com os professores da casa, retratados como um bando de preguiçosos corporativistas, que só querem manter privilégios, trabalhar pouco e ganhar muito. Da mesma forma, conflita com parte dos estudantes, apresentados como marionetes dos professores espertalhões, agitadores inconseqüentes, que só querem atrapalhar a vida da universidade.

Um desses estudantes - um rapaz negro com o ariano nome de Rudolf Stenzel (Diogo Almeida), sugerindo ser um órfão criado por família estrangeira, portanto um privilegiado que não deveria se queixar da boa sorte que teve na vida - tenta colocar os colegas contra o reitor porque ele foi imposto, não foi eleito em consulta democrática.

Rudolf inscreve-se num curso de verão de Macieira, mas falta sistematicamente às aulas. No dia em que resolve aparecer na classe, o reitor ironiza a sua presença, perguntando se ele é algum zumbi, um ser errático que surge das sombras. Oportunista inescrupuloso, o rapaz distorce a acepção em que termo zumbi foi usado, enxerga nele um sentido pejorativo e acusa o reitor formalmente de racismo, dando queixa à polícia. O caso explode na mídia e Macieira está às voltas com uma grande dor de cabeça.

Destrambelhados de terceiro grau

O problema dessa história está na diferença de tratamento. Enquanto Macieira tem todas as condições para afirmar o seu discurso, justificar suas ações, delinear-se como um personagem coerente, Rudolf é pouco mais que um figurante. Personagem unidimensional - como, de resto, são os seus professores -, não se sabe ou se ouve dele nada além da sua obstinação em protestar, criar caso, arrumar problemas sem razão objetiva.

No episódio em questão, a sua má-fé é clara e, obviamente, suscita toda simpatia do telespectador ao seu oponente. Mas Rudolf não é apenas o aluno-problema, como o site da novela no portal Globo.com o define. Ele representa um estereótipo abertamente negativo do estudante engajado, que é desqualificado como inconseqüente, intransigente e desonesto.

Esse estereótipo começou a ser construído há algumas semanas, quando Aguinaldo Silva concebeu uma invasão estudantil à UPM, em protesto contra as mensalidades cobradas aos alunos. Inspirando-se nas ocupações do ano passado na USP, Unicamp e PUC-SP, o autor e sua equipe reproduziram o mesmo discurso da grande imprensa naqueles episódios: o de que os estudantes mobilizados são radicais, não têm uma postura construtiva e são baderneiros, depredadores do patrimônio alheio.

Ainda que os casos de vandalismo tenham sido marginais nos movimentos universitários citados, foram apresentados com grande estardalhaço, como se sintetizassem a postura estudantil. Duas Caras embarcou nesse clima e providenciou o seu próprio grupo de destrambelhados de terceiro grau. Fez o estrago que desejava.

Outro dia, um dirigente estudantil comentou na Unicamp que, depois da novela, ficou impossível convencer a minha mãe que a política estudantil não é aquela baderna apresentada. Agora, tempos depois da invasão, os estudantes politizados da novela não são mais apenas baderneiros. São também mentirosos, ardilosos, desonestos.

Legítima defesa

Se Duas Caras ataca a organização estudantil e apresenta como modelo de comportamento a obediência bovina, acrítica e despolitizada dos bons alunos da Universidade Pessoa de Moraes, o tratamento que dá à favela da Portelinha não é muito melhor.

Todos sabem que, em qualquer grande favela brasileira, do Rio de Janeiro ou alhures, o crime (em geral, o tráfico de drogas) tem um grande poder político, derivado de sua força militar e do intenso assistencialismo que promove. Tanto os chefes de morro quanto seus subordinados são, inequivocamente, bandidos e dessa forma são percebidos por toda a comunidade, ainda que as eventuais bondades que distribuam sejam apreciadas e usufruídas. Com absoluta certeza, qualquer morador de favela preferia se ver livre deles, se tivesse a mínima chance de obter isso.

Na favela da Portelinha, entretanto, a ambigüidade é total. O chefão Juvenal Antena (Antonio Fagundes) não é traficante nem bandido, assim como todos os seus fiéis soldados. É apenas dirigente da associação de moradores local, que toca com mão-de-ferro e democracia zero, que não impedem o povo de considerá-lo um herói. Impossível saber como Juvenal conseguiu o milagre de, durante muitos anos, manter o crime longe de sua comunidade, sem apoio do Estado ou das milícias paramilitares que vendem segurança, e também sem usar qualquer tipo de arma.

Apenas recentemente, quando um grupo de traficantes tentou invadir a Portelinha, os moradores souberam que Juvenal estocava um verdadeiro arsenal de guerra, incluindo bazuca, de procedência ignorada. Foi o que lhes permitiu rechaçar os invasores, num combate apresentado como muito honroso, travado em legítima defesa, como se os dois lados em conflito não estivessem na ilegalidade do porte e uso de armas privativas das Forças Armadas.

De braçada

Na moral ambígua de Duas Caras, em suma, a turma do bem pode transgredir a lei sem problemas, se for para combater a turma do mal. Estudantes que dissentem da orientação da universidade são radicais perniciosos, portanto formam na turma do mal. Professores idem, eles que são vagabundos e manipuladores

E um fascistóide explícito como Juvenal Antena, ainda que contestado em suas práticas antidemocráticas pelo pupilo Evilásio Caó (Lázaro Ramos), segue firme e forte na turma do bem, com direito a namorar a maior beldade da trama, a disputada Alzira (Flávia Alessandra).

Ok, tudo isso é novela e não se pode levá-la tão a sério, dirão os que discordam da tese de Eugênio Bucci. Há que se conceder descontos ao autor, para que a trama possa funcionar como folhetim e a telenovela cumpra o seu papel de impelir a indústria televisiva.

Mas é a própria TV Globo que se ufana do compromisso de suas novelas com a realidade brasileira, sempre exaltado em seu discurso institucional e em sua publicidade. Se é assim, suas novelas podem e devem ser levadas a sério, e criticadas com rigor no discurso que enunciam.

Anos atrás, na mesma TV Globo, O Rei do Gado de Benedito Ruy Barbosa deu grande contribuição para uma visão menos estereotipada dos trabalhadores sem-terra e suas ações. Duas Caras, ao contrário, nada de braçada no preconceito. Dificilmente será lembrada no futuro, pelo que fez ao avanço da democracia no Brasil.

Observatório da Imprensa

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Opinião publicada hoje (24208) no Jornal de Angola

O autor é Francisco Fernando da Costa Andrade, escritor angolano mais conhecido pelo pseudônimo com que assina o texto

 

Ainda mais?


Ndunduma Wé Lépi|

Após um longo período de ausência por motivos não totalmente ultrapassados, uma vez que as makas com a vista exigem demora e paciência, sem garantias “a priori” de total recuperação, sobretudo quando o “respeitoso” tratamento de “Mais Velho” exige perceber o verdadeiro sentido e propósito do seu uso, regresso sem fogareiro, para assar mais uns pedaços de mbombó & uns bagos de ginguba.
O tema que hoje passo pelas brasas, já me motivou há pouco tempo, um texto publicado nesta coluna, com laivos de boa disposição. Ultimamente, tem sido objecto de artigos, opiniões, análises, sugestões, de múltiplas e afamadas autoridades na matéria, dentre as quais: Maria Lúcia Lepecki (Brasileira), José Eduardo Agualusa (Angolano), Mia Couto (Moçambicano), Wa-Zani, etc. Acabo de ler que o Professor Eduardo Lourenço se pronunciou a respeito, indiscutivelmente. Trata-se do badalado acordo ortográfico da língua, que mais ou menos, melhor ou pior, usamos na nada fácil e multifacetada actividade da escrita e da fala, nas várias pátrias heterónimas. Lepecki e Mia Couto consideram-no desnecessário, Eduardo Lourenço considera-o dispensável. Eu acho-o contra-producente mas claro, não sou tido nem havido. Agualusa sugere que Angola adira à grafia brasileira, o que, de certo modo, tornaria despiciendo o Acordo, para tornar-se uma eventual atitude unilateral com vantagens económicas e comerciais para o Brasil. A nós, nessa esfera, só serviria se fosse desatado o verdadeiro nó górdio da questão: desenvolvimento industrial e livre circulação do livro, não apenas técnico, sem taxas proibitivas. O prosseguimento da situação actual ao menos permite aos novos países independentes que somos, iniciativas de livre e democrática possibilidade de evoluirmos também, no capítulo da língua e respectiva ortografia, como de resto aconteceu e acontece com o Brasil. Não se exclua a observação das incidências que a adesão de Portugal à União Europeia vai revelando aqui e ali, sobretudo na informática, na alimentação e bebidas, na transportação, no turismo, nos comentários à gestão económica e política, para apenas citar estes breves aspectos. Não obstante o assinalável esforço do nosso país, nestes seis anos, de guerra por outros meios, Angola continua a lutar (felizmente a vencer!), contra uma grande taxa de analfabetismo. Mas persiste a ausência de livros, jornais, revistas, televisões, rádios, numa palavra, escassez de acesso à cultura geral, que desperta e forma o conhecimento. Ao trinco de excepção chamam livro técnico, porque são poucos os técnicos, que os importam. Compram-nos fora quando viajam. É muito mais barato. O desenvolvimento da língua de unidade e das outras, como a pensem, criem, usem, enriqueçam, a diversifiquem, os próprios angolanos, tal como tentam fazer, em todos os domínios possíveis e acessíveis à sua condição de cidadãos livres, independentes, empreendedores, particularmente na economia, na reconstrução material e das mentalidades, não interessa alguns gestores das pautas do ferrolho. Por outro lado, não é difícil detectar numerosos anglicismos, no português brasileiro, como no português português, francesismos, espanholismos, italianismos e outras origens que o acordo nos faria

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Descoberta de Santa Cruz é mais uma prova do engano do genial Colombo

Sipa-Press
O genovês Colombo insiste na tese de que suas ilhas são as Índias

ão é caridoso apontar as fraquezas de quem passa por um mau pedaço, como acontece atualmente com Cristóvão Colombo, o orgulhoso almirante do Mar Oceano. Mas o fato é que o descobrimento feito por Pedro Álvares Cabral fornece mais uma prova de que o navegante genovês está errado: as ilhas que desbravou, sob o patrocínio da rainha Isabel de Castela, não só não têm nada a ver com as Índias como parecem ser parte de todo um novo mundo, desconhecido pelos europeus. Cumpre reconhecer os méritos de Colombo, o primeiro a sair a mar aberto nove anos atrás e, mais impressionante, voltar em segurança. Valente, teimoso e competente como poucos, ele já repetiu mais duas vezes a viagem e iniciou um processo de assentamentos no território. Persiste, no entanto, na obsessão de comprovar que as ilhas, em muito semelhantes à Terra de Santa Cruz, constituem alguma parte do Oriente descrito há dois séculos pelo aventureiro veneziano Marco Polo.

A situação delicada vivida no momento por Colombo tem menos a ver com seu engano e mais com as confusões ocorridas nos novos territórios abarcados pela bandeira espanhola. Há menos de um ano, o pioneiro desbravador do Mar Oceano, acompanhado pelos dois irmãos, foi posto a ferros e levado preso para Sevilha. A rainha Isabel já mandou soltá-lo, mas Colombo não conseguiu recuperar o posto de governador e vice-rei das Índias – sim, os espanhóis insistem na designação –, e é difícil que isso venha a acontecer. Sua administração foi um desastre. Esperando riquezas prodigiosas, os espanhóis levados para iniciar o assentamento enfrentaram doenças, fome e revoltas dos nativos, impiedosamente massacrados. Afundaram na desordem e na rebelião. Quando o interventor Francisco de Bobadilha, enviado para pôr ordem no caos, chegou a São Domingos, pendiam da forca sete corpos de espanhóis amotinados contra Colombo. O descobridor do novo mundo, preso por Bobadilha, saiu de lá debaixo de insultos. Almirante dos mosquitos, foi uma das ofensas mais brandas que ouviu.

Parte do tempo que deveria dedicar a controlar os temperamentais espanhóis foi dedicada pelo almirante a tentar comprovar a absurda teoria de que a maior da ilhas – chamada de Colba – da região é o começo das Índias. Depois de quase circundá-la completamente, ele fez todos a bordo dos três navios jurar, perante um notário, que a ilha não era ilha, sob pena de multar em 10 000 maravedis e mandar cortar a língua de quem dissesse o contrário.

A obsessão de Colombo é compreensível. Durante boa parte de sua vida, ele alimentou o ambiciosíssimo projeto de chegar às Índias navegando da Europa na direção oeste. Ele se baseava nos relatos dos antigos e nas cartas do respeitado cosmógrafo florentino Paolo Toscanelli, para quem a distância marítima entre a Europa e o Extremo Oriente era relativamente pequena. Quem poderia supor que, no caminho, existia todo esse novo mundo? Apesar da lógica aparente, não convenceu os portugueses, entre os quais aprendeu as artes da navegação, além de ler e escrever. Tentou vender o projeto aos reis da Inglaterra e da França, sem sucesso. A muito custo, convenceu finalmente a rainha Isabel, que se sentia pressionada pelas conquistas marítimas dos parentes e rivais portugueses. No dia 3 de agosto de 1492, ele partiu, com duas caravelas, uma nau, autoconfiança inabalável e a sorte, que sempre o bafejou, dos ventos a favor. Passou dois meses no mar – um recorde nunca antes alcançado. Em 12 de outubro, às 2 horas da madrugada, um vigia gritou Tierra! e viram a primeira ilha, batizada de São Salvador.

Colombo voltou dessa primeira viagem coberto de glórias, que nunca mais se repetiram. Com pouco retorno financeiro até agora, as ilhas deixaram de ser novidade. O almirante, porém, não desiste. Na última e desastrosa viagem, pisou em um trecho de litoral onde nem ele, com toda a fé de ter achado um caminho para as Índias, pôde deixar de ver traços de um continente. Mas, se não são as Índias, que pedaço de terra é esse? O Paraíso Terrestre, concluiu o pio navegante. Como se sabe, nenhum ser vivo pode visitá-lo. Ao descrever seu encontro com o Éden, ficou tão exaltado que despertou dúvidas quanto a seu estado mental. Atualmente, privado do prestígio de outrora, busca, com a costumeira tenacidade, formar a frota da quarta viagem. Para onde? Para um grupo de ilhas desconhecidas nos confins do oceano, suspira a corte espanhola. Para as Índias, teima, impávido, o almirante do Mar Oceano.

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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