Uma semana após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer no Congresso do PSDB queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria, a construção usada ainda gera polêmica.
A Folha ouviu três especialistas. Para eles, é possível usar melhor educado, mas seria mais recomendável usar a forma mais bem.
Maria Helena de Moura Neves, autora de Gramática de Usos do Português Contemporâneo e professora da Unesp e do Mackenzie, afirma: Até seria possível dizer melhor educados (ou educados melhor), mas o significado seria educados de maneira melhor. Mas, pelas condições em que a frase foi dita, não era isso o que ele queria dizer, afirma. O que quis foi fazer uma comparação entre indivíduos quanto ao grau em que possuem a qualidade bem-educado, algo como brasileiros mais bem-educados do que os que estão por aí.
Ela conclui que a crítica à fala de FHC procede, não porque se toma como lei que não haverá nunca o advérbio melhor qualificando um particípio, mas pela diferença de sentidos. O que cabe bem na declaração é a primeira, e não a segunda construção.
José Luiz Fiorin, professor de lingüística da USP (Universidade de São Paulo), diz que, diante de particípio como educado, prefere usar mais bem. É a forma mais tradicional na gramática. Mas a língua não é uma entidade fixa. O melhor foi sendo usado e eu entendo que se admite esse melhor, é perfeitamente possível, diz.
Francisco Platão Savioli, professor aposentado da USP, argumenta que ambos os usos são recorrentes na variante culta formal.
O estilo ocorre quando a língua permite dois usos, você escolhe o de seu agrado. Quando se trata do comparativo melhor ou mais bem referindo-se a uma forma participial, a língua culta formal registra os dois usos. As duas formas coexistem na língua culta formal, afirma o professor.
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Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) da OCDE testou ensino da disciplina em 57 países
Fonte: www.estadao.com.br Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA Veja exemplos das questões
Com 390 pontos em uma escala de 800, o País obteve o mesmo resultado de três anos antes, na edição de 2003, e revela o que exames nacionais já tinham mostrado: a qualidade da educação brasileira continua ruim.
O Pisa é uma avaliação feita a cada três anos pela OCDE com seus países membros e alguns convidados. O teste avalia estudantes de 15 anos, não importando a série em que estão - no Brasil, entram alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e qualquer um dos anos do ensino médio - em ciências, matemática e leitura. A cada edição, uma das áreas é testada com mais profundidade. Neste ano, a ênfase foi dada a ciências e a prova revelou um Brasil estagnado.
Em 2003, o País ficou em 39º lugar entre 40 países, com os mesmos 390 pontos. Apesar da colocação ruim, houve um avanço, já que em 2000 havia o último com apenas 375 pontos. Neste ano, o Brasil ganha de cinco países, mas a lista foi acrescida de 17, somando 57 no total. Não é bom não, não tem o que dizer. Ficou estacionado, disse Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep), que aplica o teste do Pisa no Brasil.
Apesar dos próprios técnicos da OCDE recomendarem que não se compare um ano com outro, Reynaldo afirma que é possível comparar e a situação não é boa para o Brasil. Esperávamos que crescesse um pouco. Mas a verdade é que o Pisa avalia estudantes de 15 anos. O avanço que vimos no Saeb 2005 na 4ª série ainda não aparece entre os alunos dessa idade. Se continuar melhorando, talvez em 2009 já mostre alguma coisa, explicou.
Entre os países latino-americanos que fizeram a prova, o Brasil só está na frente da Colômbia, que aparece com 388 pontos. A Argentina, com 391, está uma colocação acima da do Brasil. O México, com 410 pontos, aparece em 49º lugar. No entanto, com as margens de erro calculadas pelo teste, os quatro países estão em situações muito parecidas. Apenas o Chile, com 438 pontos e em 40º lugar, destaca-se um pouco na América Latina, mas ainda está muito longe dos primeiros lugares, ocupados por Finlândia, Hong Kong e Canadá.
Os resultados não me surpreendem. Especialmente esse resultado em ciências, que não é uma área prioritária de ensino no Brasil. Ao contrário, é praticamente inexistente até o ensino médio. Temos alguma coisa no ensino privado, mas isso não é suficiente para melhorar um índice, avalia Jorge Werthein, coordenador no Brasil da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla). Na verdade, o País nem mesmo faz um acompanhamento dos resultados do ensino de ciências. Diferentemente do Pisa, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) concentra-se em matemática e português.
Não se sabe ainda qual a situação do Brasil neste ano em matemática e leitura. Os dados serão divulgados apenas na próxima semana. Em 2003, o Brasil fez 403 pontos em leitura - sua melhor posição, sete pontos acima do exame anterior - e ficou com a 37ª posição entre 40 países. Em matemática, com 356 pontos, ficou em último. Em 2000, apareceu em penúltimo, mas com pontuação bem inferior, 334 pontos.