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O mito antes do branding

 

Grande parte dos produtos ofertados diariamente em lojas e supermercados resulta de pesquisas, que identificam as subjetividades dos desejos dos consumidores, é sintetizada em laboratórios de marketing, e vai conquistar a preferência de quem os leve para casa. A criação de marcas, na chamada sociedade dos sonhos, é fruto de muita estatística, observação, psicologia, comunicação e controle. A ação cerebral de ligar os prazeres da vida, da mesa, da cama, da beleza, ao ato de comprar é religião profana, que junta o mundano ao sagrado - e é chamada pelos sacerdotes do marketing de branding.

O filme Coco antes de Chanel (França, 2009), direção de Anne Fontaine, mostra um período da história do marketing em que era permitido algum tipo de aventura ou empreendedorismo no campo dos negócios. A estilista Gabrielle Bonheur Chanel (1883-1971), encarnada no filme por Audrey Tautou, nas primeiras décadas do século XX representava a pré-história da construção de marcas, em que as digitais do dono eram a sua representação.

A partir do final do século XVIII e também nos séculos XIX e XX com a massificação de produtos, alguns foram batizados com os nomes de seus criadores ou fabricantes: Arthur Guinnes, que fundou a sua cervejaria em 1759, ou Charles Goodyear (1800-1860), ou Henry Ford (1800-1860), ou Walter E. Disney (1901-1966), são exemplos de personalidades-marcas, com farto material para a criação de narrativas mitológicas.

Em uma sociedade hedonista e efêmera como a que vivemos, a maioria dos grandes protagonistas do negócio da moda tem combustível mitológico, que incendeia a imaginação de bilhões de consumidores e curiosos. Emerson, lembrado pelo publicitário norte-americano Sal Randazzo, disse que se um homem escreve um livro melhor, prega um sermão melhor, ou faz uma ratoeira melhor do que o vizinho, mesmo que construa sua casa na floresta, o mundo abrirá uma trilha até a sua porta.

A história contada por Fontaine é uma trilha para uma Chanel mitificada e pouco documentada e passa longe das suas ligações com os nazistas, na França ocupada, durante a Segunda Guerra Mundial. Mito e lenda geralmente se dão bem. No filme, o material mitológico gerado pela vida de Chanel é constituído pelo que Joseph Campbell denominou de a trajetória do herói, um caminho cheio de desafios, transposto passo a passo, em direção a um destino glorioso, reconhecido, desta maneira, por toda a sociedade.

No caso de Chanel, sua superação de obstáculos - e por milhões de outras mulheres, que se reconheceram em seu estilo - está na exploração do arquétipo da mulher com aparência de menino: magra, seios pequenos, cabelos curtos e roupas folgadas, para serem usadas longe do espartilho. A dimensão privada de sua vida também alimenta a narrativa aberta, que caracteriza a edificação de mitos. Entre os muitos aspectos da Chanel celebridade, destaca-se a sua ligação com artistas de vanguarda, de cinema e também com gente graúda, na primeira metade do século passado. Tipos humanos que dão asas à imaginação para quem tem vida burocrática, aborrecida e adora marcas.

 

Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação.

 

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Descoberta sugere que eles percebem idioma na barriga da mãe.
Pesquisa mostra importância do choro para o desenvolvimento.

 

Desde seus primeiros dias de vida, os bebês choram em francês, inglês ou português, já que ao emitirem seus primeiros sons levam a marca do idioma de seus pais, afirma um estudo publicado nesta quinta-feira (5) no site da publicação Current Biology.

A descoberta sugere que os bebês captam elementos do que será seu idioma materno ainda na barriga da mãe, muito antes de suas primeiras palavras.

A descoberta mais espetacular do estudo é que os recém-nascidos humanos não são só capazes de reproduzir diferentes tons quando choram, mas preferem os tipos de sons típicos do idioma que ouviram quando feto, no último trimestre de gestação, diz Kathleen Wermke, da universidade de Wuerzburg (Alemanha) e uma das autoras do estudo.

Segundo Wermke, ao contrário do que indicam as interpretações mais conservadoras, os resultados do estudo mostram a importância do choro para o futuro desenvolvimento da linguagem. 

Diferenças

A equipe de Wermke gravou e analisou o choro de 60 bebês saudáveis, 30 deles de famílias francesas e os outros 30 de famílias alemãs, entre três e cinco dias após o nascimento. A análise revelou claras diferenças com base no idioma materno.

No experimento, os bebês franceses tenderam a chorar em um tom ascendente, enquanto os alemães faziam em um tom descendente, diferenças características entre os dois idiomas, como explicou Wermke. 

 


Estudos anteriores já tinham demonstrado que os fetos humanos são capazes de memorizar sons do mundo externo nos últimos três meses de gestação



Mas embora se sabia que a exposição antes do parto ao idioma materno influía na percepção dos recém-nascidos, se pensava que seus efeitos sobre a emissão de sons se davam de forma muito mais tardia.

Segundo o estudo, os recém-nascidos preferem a voz da mãe a todas as demais, percebem o conteúdo emocional das mensagens enviadas mediante a entonação, e sentem uma forte motivação de imitá-la para atraí-la e criar laços afetivos.

 

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