A Brasília que não lê

Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?

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A Peleja da Estrela do Mar contra o Rochedo da Intolerância

Meu divino São José
Aqui estou a vossos pés
Dai-nos letras com abundância
A nossas idéias dai fé.

O infinito é estrelado
O mar tem estrela também
Umas brilham só de noite
De outras a vida evém
Umas estão tão distantes
Outras nos braços nos têm.

Quero falar de uma Estrella
Que nasceu longe do Mar
Mas que é estrela guia
Para quem quer navegar
No oceano da língua
Sem ter medo de errar.

São Lourenço é terra d’água
A mais pura que há no mundo
Mas Stella queria mais
Não descansou um segundo
Fosse em Ohio ou Goiânia
Fez seus estudos fecundos.

Latona, Cibele, Réa, 
Íris, Vulcano, Netuno, 
Minerva, Diana, Juno, 
Anfitrite, Androcéia, 
Vênus, Climene, Amaltéia, 
Plutão, Mercúrio, Teseu, 
Júpiter, Zoilo, Perseu, 
Apolo, Ceres, Pandora, 
Gente, desata agora
O nó que a Estella deu[1] .

Desde pequena essa Stella
Tinha essa estranha mania
A quem via pela frente
Desfiava mitologia
Havia quem estranhasse,
Mas outros se divertiam.

Desde esse tempo ela sabe
Que o valor da erudição
Não pode ser privilégio
Nem servir de humilhação
Saber e democracia
Libertam da escravidão.

Por isso, pra professora
Estudou bem desde cedo
Pois nesse mundo malino
Nada não lhe punha medo
Foi morar com o Tio Sam
Pra desvendar o segredo.

De volta no bom Goiás
Completou a formação
De Goiás para Brasília
Um pulo no Chapadão
De Brasília a Lancaster
Já carece de avião.

Mas de que vale a pesquisa
Se não tem aplicação?
A academia é boa
Mas precisa de seu chão
Pesquisar língua do povo
Tornou-se a sua missão.

Para se chegar ao povo
É preciso muita fé
E como não ser gentil
Com a gente que anda a pé?
Por isso mesmo sem gosto
Danava a tomar café.

De Brasília a Brazlândia
Stella Maris sempre ia
Não era Brasília amarela
Mas muito menino cabia
Pois mesmo já sendo velho
Era carro de valia.

Sabia que entrevistar
Gente do campo é preciso
Para ver como é a fala
De quem mesmo com seu siso
Não herdou língua-padrão
Mas tem saber de improviso.

Numa Brasília marrom
Ou vermelha, não me alembro
Botava us meninu no carro
Fosse abril ou dezembro
Ouvir do povo a palavra
Pois cada um é um membro.

Membro da comunidade
De falantes desta língua
Seja no Plano ou Formosa
Bandeirante ou Taguatinga
Rico, bacana ou doutor
Ninguém vai ficar à míngua.

Na Graduação em Letras
Eu tive um contentamento:
Saber que a minha língua
Não era nenhum tormento
Sertanejo calejado
Recebi um linimento:

Ninguém não fala errado
Cada qual no ambiente
Por não ser um cabra culto
Ninguém é menos gente
Todo mundo é igual
Só a fala é diferente.

De valor sempre tem sido
A nossa cultura oral
Pois mesmo sem a leitura
Todo ser traz o sinal
De tino e sabedoria
De riqueza um cabedal.

Mas precisava que alguém
Dissesse isso em voz alta
E escrevesse em letra forte
Que a quem a letra falta
Não lhe falta a cultura
É outra sua ribalta.

Estudar sociolingüística
Foi a sua danação
Stella foi a Lancaster
Fez castelo pro povão:
- Errado é quem não ensina
A escrever noutro jargão!

Precisava alguém mostrar
Com a letra da ciência
Que o saber da leitura
Têm mesmo muita valência
E letrar a todo mundo
É a nossa emergência.

E não censurar a língua
De quem não teve escola
O dever de nosso Estado
É deixar de ser cartola
Pois todos são jogadores
Todos são mestres da bola.

Nós cheguemu à escola,
E agora?, nóis pergunta:
Se antes, tudo apartado,
Na cidade é tudo junto,
Se não é pra aprender
Vamos mudar esse assunto.

O Letramento de hoje
Mais que alfabetização
Considera o contexto
E não faz a divisão
Entre o sabido doutor
E o mestre do povão.

Todos têm a sabença
E outras podem dominar
Pois saber ler e escrever
É como um bom caminhar
Descobrem-se outras vias
Por onde poder passar.

Stella Maris, ‘fessora
Sempre gostou de ensinar
Já formou muito doutor
E muita mestra escolar
Hoje, busca o letramento
Para quem queira voar.

Mais que a letra, o pensamento
Mais que estudo tem a lida
A nos trazer letramento
E sempre nos dar guarida
Mas se a escola não ensina
Como fica a nossa vida?

Por isso a Stella dos Mares
Deste Planalto goiano
Avoa todo o País
E não comete engano
Onde vai leva esperança
Entra ano e sai ano.

Pois entre tantas Brasílias
Há uma que ainda não lê
Meninos, moças e velhos
Privados desse saber
Hoje ecoam sua voz
Nu’a pesquisa de valer.

Em tanta estrada que andou
Stella chama a atenção
“Parceira da Imprensa”
Foi comenda de atenção
Que reconheceu o trabalho
De quem tem o pé no chão.

De Rio Verde, Goiás
De honra ela é cidadã
E também Comendadora
Da cultura Lourençã
São Lourenço bem que louva
O bom quengo dessa irmã.

E hoje seu mundo explodiu
Com o ensino virtual
Não carece chegar a ela
Vai onde tem sinal
De internete banda larga
Levando seu cabedal.

A Peleja de Stella
Tem começo, mas não fim
Por sorte muitas parceiras
E parceiros, creiam em mim
Nunca se viu uma turma
Que fosse tão brava assim.

Por este Brasil afora
Espalham essa visão
De uma língua includente
Sem cadeia ou escravidão
Pois essa língua é de todos
Não tem dono nem patrão.

[1] Esses versos foram proferidos por Romano da Mãe D’água, na Peleja de Inácio da Catingueira e Romano da Mãe D’água, segundo a recomposição da peleja, havida na Vila de Patos, PB, em 1870. Aqui, adapto para Stella Maris, que era apreciadora de mitologia. 

O cordel eu escrevi para homenagear a Professora Stella Maris Bortoni (http://www.stellabortoni.com.br/), por ocasião do I COLÓQUIO SOBRE  LETRAMENTO, ALFABETIZAÇÃO E AVALIAÇÃO, organizado pelo CENTRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – CFORM/UNB, dias 13 e 14 de dezembro de 2010. 

Agradeço a cooperação de Márcia Bortoni, Larissa Bortoni, que me forneceram informações valiosas. E, claro, às organizadoras do Colóquio, Rosário, Rosi, Paola.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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