A Brasília que não lê

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Está aberta mais uma temporada de debates em Nova York, cidade onde nenhum assunto passa sem ser calorosamente discutido. A equação que mede a razão entre os benefícios do aprendizado fora da sala de aula e o custo emocional da briga entre pais e filhos exaustos em torno das tarefas virou tema em rodas da cidade, especialmente em alguns bairros do Brooklyn, região mais populosa da metrópole onde vivem cerca de 2,5 milhões de pessoas. A área tem uma alta concentração de boas escolas públicas e a educação das crianças é o único assunto que concorre com as fofocas sobre especulação imobiliária na conversa entre mães e pais que se encontram nas pracinhas. Entre as escolas que atendem crianças de 5 a 10 anos, existe agora uma tendência para abolir a lição de casa ou torná-la optativa.

As mudanças são sustentadas por duas premissas: a de que crianças nessa faixa etária ainda são muito novas para receber uma carga acadêmica pesada fora do horário escolar. Prefere-se que elas usem o tempo livre para brincar em casa, correr em parques, praticar esportes, ou jantar em família com calma. E que essas atividades podem responder melhor a necessidades formativas mais amplas do que o mergulho precoce numa espécie de obsessão acadêmica.

A outra premissa é que as tarefas escolares acentuam a discrepância de desempenho. Aqueles que contam com a ajuda dos pais levam vantagem. Os que têm familiares ocupados, ausentes ou nem mesmo falam inglês acabam se saindo pior. O Departamento de Educação do Estado de Nova York não dita a quantidade e o formato das tarefas. A decisão é de cada escola. Tampouco há um número oficial que meça a adoção da prática. Via de regra, o dever de casa começa a ser exigido já na alfabetização, que começa por volta dos 5 anos. A partir da segunda série, quando os alunos passam a ser testados com regularidade, a pressão aumenta. Em muitos lares, a hora do dever é sinônimo de gritaria e ameaças. Quem tem filhos já assistiu a esse filme.

“Sem a tarefa de casa, eu não acompanharia o progresso da escrita e da leitura do meu filho,” diz a redatora publicitária americana Elizabeth King, mãe de Jack, de quase 7 anos, que cursa a primeira série na escola pública 321, uma das mais famosas e concorridas do Park Slope, no Brooklyn. Bebericando um chai latte em um restaurante belga do bairro, ela conta que o pacote, que inclui gramática, poemas e matemática, é entregue às segundas-feiras para ser retornado na sexta. A escola não acredita em tarefas nos fins de semana. Jack costuma fazer o dever durante o café da manhã, “quando sua mente está mais fresca, alerta e criativa”. No entanto, Elizabeth não tem certeza de que os deveres que o filho entrega à professora são corrigidos. A papelada nunca volta para casa.

Estudantes da escola pública 154, em Windsor Terrace, também no Brooklyn, os brasileiros Vitória, de 11 anos, e Rafael, de 8, passaram a levar menos tarefas para casa a partir da segunda série. “Os exercícios ficaram mais complexos, e por isso as crianças recebem menos páginas”, explicou a mãe, Márcia Lunardi, designer que imigrou com a família do Rio de Janeiro para Nova York há cinco anos para acompanhar a carreira do marido, hoje programador do site do The New York Times. Ela defende a lição de casa. “Faz diferença gastar dez minutos do seu dia para ler o que eles fizeram e pescar os pontos fortes e fracos. O ganho é enorme.” O segredo é gerenciar, acredita ela. “Como os pacotes são semanais, alguns dias pode-se adiantar o dever de casa e fazer menos no dia seguinte”, disse ela no lobby do centro esportivo YMCA, enquanto aguardava a prole terminar de se exercitar.

Repetição improdutiva

No banco da pracinha Lincoln Playground, no bairro Park Slope, a conversa fica mais acalorada quando o assunto é o trabalho escolar levado para casa. “Dever só é positivo se for baseado em observação empírica. Não seria divertido observar algo na cozinha, no parque ou na vizinhança? Que seja entrevistar o vizinho”, comenta a historiadora mexicana Adriana Pérez, mãe de María, de 6 anos, que cursa a primeira série da escola pública 133, que oferece turmas bilíngues, de espanhol ou francês, não longe da pracinha. “Sentar diante de uma escrivaninha e fazer exatamente o que já foi feito na escola é contraprodutivo.”

María nunca se opôs à lição de casa. É boa aluna e dava conta do pacote semanal em 45 minutos. Mas ao longo deste ano, ficou desmotivada por causa da repetição. Ao contrário da prática de violino, da qual seus pais não abrem mão, a menina jamais foi obrigada a completar o dever, sobretudo depois que a professora o declarou opcional. “Sempre priorizamos festas de aniversário, atividades culturais e sociais sobre a tarefa nos fins de semana. Mas se ela quiser fazer, estamos abertos a isso”, diz Adriana, que leciona a disciplina de tecnologia e cultura no Departamento de Estudos Interdisciplinares na John Jay College of Criminal Justice.

A húngara Elvira Vida discorda. Seus filhos gêmeos Lola e London, de 8 anos, cursam a segunda série na 118, uma das escolas públicas do mesmo bairro que baniu o dever de casa. “Eles substituíram a tarefa tradicional pelo que chamam de Exercise Your Brain (EYB) ou “Exercite a sua Mente.” A ideia reflete aquele conceito sugerido pela mexicana Adriana: as crianças exploram os temas por meio de projetos, como cozinhar, por exemplo. “Mas até que ponto se aprende algo além das medidas de farinha e açúcar para se fazer um muffin?”, indagou Elvira, sentada na sala de espera da academia onde as crianças estudam dança. Ela argumenta que a dupla não tem progredido em espanhol – ensinado duas vezes por semana na escola – porque não há reforço em casa. “Idioma novo depende de exercício e repetição – não há como fugir disso”, contou ela, cujos filhos são fluentes em inglês e húngaro.

Rumo à Estação Finlândia

Em vez do dever, a escola dos gêmeos sugere que os alunos filmem suas experiências de ciências e coloquem no YouTube para dividir com a turma. Aí, volta-se à questão: e como ficam os pais que não sabem editar um filme ou, financeiramente, não podem executar a ideia? Elvira tem tempo e prazer de filmar e editar os vídeos de sua dupla. Mas entende que não se trata da realidade geral de uma escola pública. “Os defensores do não dever citam a Finlândia como referência para a educação. Mas esquecem que a sociedade finlandesa é socialmente e economicamente mais homogênea, dentro e fora da escola. O mesmo não acontece aqui. Estão comparando bananas com maçãs.”

A tendência se alastra também pelo ensino fundamental das escolas charter, aquelas que recebem financiamento do governo, mas que, ao contrário das escolas públicas, operam com independência. “Nossa escola não tem dever de casa por várias razões”, contou a diretora americana Ellen Borenstein, da International Charter School of New York, em Down­town Brooklyn. Para ela “nada substitui a preciosidade do tempo familiar”. “As crianças já passam muito tempo na escola. Prefiro que elas jantem com seus pais, conversem sobre o dia, leiam um livro juntos e vão para cama cedo. Desta forma estarão descansadas para aprender mais no dia seguinte”, argumenta ela, que incentiva – e muito – a leitura em casa.

Ellen alerta que lição de casa feita incorretamente e sem correção reforça erros. “Prefiro que a professora passe aquela lição em sala de aula e confira pessoalmente o quanto o aluno aprendeu.” Ellen, que já foi professora, leu quatro livros sobre a questão. Sua conclusão: até a quarta série dever de casa não acrescenta nada ao desempenho nos testes obrigatórios e nem ensina senso de responsabilidade. Ela acredita que, a partir da terceira série, os alunos começam a ter noção desta responsabilidade e, na quarta série, o dever passa a dar, aí sim, suporte ao conteúdo.

Em outra escola charter, a Brooklyn Urban Garden Charter School, em Windsor Terrace, o dever existe nas séries mais avançadas, mas não chega a ser um termômetro de rendimento escolar. “Aqui, a lição conta apenas 10% na avaliação geral de cada um. Se um aluno é excelente e faz dever, leva um A. Se é excelente e não faz, leva um B. Esta é única diferença,” diz a professora americana Laura Karlen, que leciona espanhol para jovens de sexta a oitava série (de 11 e 15 anos). Nesta faixa etária, a vida social é tão relevante que prestar atenção nas aulas é um desafio. “Fazer o dever em casa, em silêncio e focados, é um grande ganho tanto para eles, quanto para a professora, que não tem condições de dar atenção individual para 30 alunos”, comenta Laura.

Como outros defensores da lição de casa, a professora argumenta que na faculdade e na vida profissional a carga de trabalho aumenta e por isso é preciso tornar os jovens responsáveis desde já. “Para os alunos que carecem de ajuda em casa, até porque alguns pais não dominam inglês, a escola dá suporte para que o dever seja feito em aula. Quanto menos alunos tiverem esta defasagem, mais atenção exclusiva é dada a quem precisa”, diz Laura.

O debate não chegou com tanto fervor às escolas particulares, mas não as poupou da polêmica. Na escola Basis Independent, em Red Hook, no Brooklyn, cuja mensalidade gira em torno de US$ 28 mil dólares anuais (R$ 89 mil) e o mandarim faz parte do currículo, há pais felizes e outros insatisfeitos. O dever de casa é obrigatório, diário, para ser entregue no dia seguinte, e espelha o que foi aprendido naquele dia em classe. Mas a quantidade desagrada alguns pais, principalmente quando ambos trabalham fora e não conseguem relaxar nas horas vagas com os filhos por causa da lição.

“Depois do Natal, notamos um aumento na carga de tarefas. Em pouco tempo, a pressão passou a afetar a qualidade de vida da nossa família”, reclamou a produtora americana Rachèle Benloulou-Rubin, mãe das gêmeas Alyx e Nella, da primeira série. “Sou a favor da leitura, sim. Mas exigir matemática e soletrar palavras todas as noites com prazos diários é demais”, ponderou. “Acredito na moderação, inclusive porque em dado momento tarefas escolares tornam-se um importante instrumento de disciplina”, disse ela, falando de seu escritório.

Nas páginas do NY Times

O debate sobre mandar ou não lição para casa ganhou as páginas do The New York Times no final de abril, quando uma reportagem salientando a diversidade socioeconômica nas salas de aula da cidade, a carga que o dever de casa impõe em algumas famílias e a falta que a lição faz para outras recebeu 383 comentários de leitores em apenas um dia. Destes, 19 foram selecionados como melhores pelos editores do jornal: uma professora relatou que crianças sem recursos se sentiam humilhadas diante dos projetos trazidos de casa por colegas de melhor situação financeira.

Foi quando ela passou a comprar material do próprio bolso para usar nas atividades e reduzir as diferenças. Outra professora reforçou que, exageros à parte, a partir da segunda série o dever passa a ser um treino para as exigências que virão na vida adulta. Mas foi um leitor, de nome William Fite, que resumiu o caso em apenas uma frase: “Existe algum assunto neste mundo sobre o qual os nova-iorquinos não discutam com paixão e convicção?”. Não houve réplicas.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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