A Brasília que não lê

Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?

Leia Mais

Projeto Leitura

O Projeto Leitura, tem como objetivo vencer um dos maiores desafios encontrados pelos professores e amantes da literatura: Criar o hábito da leitura.

Leia Mais

Projeto LEF

Projeto LEF Confira artigos, trabalhos, Vídeos, Fotos, projetos na seção do Letramento no Ensino Fundamental.

Leia Mais

SOLICITAÇÃO A MACHADO

São Paulo, 11 de outubro de 2008

Prezado Machado de Assis,

Acabei de finalizar o meu primeiro livro. É de crônicas. Consta que o senhor é reconhecido como um dos primeiros cronistas brasileiros. Isso me dá a liberdade de lhe escrever, sem constrangimentos, uma vez que somos colegas de gênero. Como colega, solicito um favor especial: gostaria que escrevesse uma apresentação para colocar na contracapa. Seria de enorme honra e grande privilégio, uma vez que já procurei na livraria e não encontrei nenhum livro com sua recomendação para autor ou obra. Serei o único.

Quando o leitor entra na loja disposto a adquirir alguma obra, primeiramente é atraído pela capa ou pelo nome do autor. Embora tenha escolhido um nome polêmico, ainda sou desconhecido, então a capa é fundamental, por isso pedi ao editor para criar a capa com um vermelho forte e colocar a palavra sexo bem grande — dizem que isso vende muito. Evito imagem, pois a palavra em si atrai homens e também mulheres. Depois que o promitente comprador (eu também conheço palavras pouco usadas) for atraído pelo sexo, irá virar o livro e ler a apresentação. É aí que preciso das suas palavras e da sua assinatura.

Entendo que a contracapa é um dos principais itens de persuasão na venda ao leitor. Muito mais importante que as orelhas. O senhor poderá guardar e, no futuro, mostrar orgulhosamente aos seus filhos. Aparecer no verso de um livro conta mais pontos no currículo que um simples recorte de jornal, sabia?

Embora eu seja um pouco desentrosado com a turma que lê e decora poemas, sei que Machado de Assis é bem conhecido no meio literário, tanto que, recentemente, o seu aniversário, me contaram, foi notícia em programa de televisão. Procurei pelos títulos dos seus livros entre os mais vendidos numa revista semanal, infelizmente não o encontrei entre os primeiros cronistas. É básico apertar a sua editora e cobrar a assessoria de marketing. Sei lá, precisa aparecer no Jô Soares, no Serginho Groisman ou ser entrevistado pelo Faustão. A salvação é que, de acordo com as minhas pesquisas, no prédio onde moro, descobri que quase todos já ouviram falar do seu nome alguma vez. Isso é o que importa. O senhor é famoso por aqui. Isso não é bacana?

Quando for escrever a apresentação, evite ser prolixo como nos seus romances, basta uma lauda, só há espaço para uma página e ainda precisa deixar lugar para o código de barras. Para o senhor, deve ser muito difícil fazer um texto enxuto, por isso, caso se exceda no tamanho, não se preocupe, pedirei ao editor para enxugar e cortar o supérfluo.

Acredito que alguns elogios a meu respeito valorizem a obra e atraiam compradores. Fique à vontade para elogiar. Pode inventar. Abuse. Dizem que o senhor tem muita criatividade. Mas, se faltar inspiração, sugiro que escreva que o cronista é de origem humilde, que só aprendeu a escrever aos doze anos de idade. Que o autor ganhava dinheiro lavando carros sob o sol quente e que, entre um e outro automóvel, escrevia à mão, sentado num caixote de madeira. Diga que me descobriu quando perdi meu caderno no seu possante. As pessoas ficam comovidas e compram. Em relação à minha escrita, comente que a complexidade da leitura da obra cumpre um papel essencial e acarreta um processo de reformulação nas teorias literárias. Ou: é fundamental ressaltar o novo modelo estrutural aqui preconizado e que nos obriga à análise dos conceitos de formação de novos leitores. Encontrei essas magníficas frases em um manual que ensina oradores a discursar. A lista de frases é extensa, se precisar, posso transcrevê-las, é só pedir.

O editor disse que é importante ser apresentado por alguém renomado, pois agrega valor à obra. Logo pensei em alguns personagens famosos como o Ayrton Senna, Elvis Presley ou mesmo o Ghandi, já ouviu falar, não é? Só depois o editor informou que deveria ser alguém da área das Letras. Imediatamente lembrei e sugeri o Morse, aquele do código. Foi rejeitado. O editor parece estar perdido. Toda hora quer uma coisa diferente. Finalmente explicou que o ideal seria alguém destacado da área de Letras e com vários livros publicados. Pensei no autor do Dom Quixote, mas eliminei Cervantes porque só escreveu esse famoso. Depois, sem dúvidas, escrevi uma carta para William Shakespeare (se pronuncia uíliam) solicitando escrever a contracapa. Quando eu estava a caminho para a agência dos correios, encontrei um amigo que alertou que o tal do William não iria responder a carta por não falar português. Desisti do inglês. Só sobrou o seu nome.

Ah, antes de finalizar, gostaria que enviasse também uma foto colorida. Suas fotos sempre são muito sérias, procure uma mais alegre, com um sorriso grande em que apareçam os dentes. E, em vez daquela roupa de casamento, prefiro que esteja de bermuda, para combinar com o meu livro de crônicas descontraídas.

O lançamento será daqui a três meses, no bar do Tião das Codornas. O lugar é ótimo para vender, é bem movimentado. Se quiser, posso pedir para arrumarem uma mesinha onde poderá vender os seus livros também. Se não vender nenhum, ao menos terá a chance de sair de lá com uma namorada.

Por favor, responda logo para não atrasar a edição.

Um abraço do seu colega,

Cid Cheldom

Categoria pai: Seção - Blog

Pesquisar

PDF Banco de dados doutorado

Em 18 de março de 2024, chegamos a 1.511 downloads deste livro. 

:: Baixar PDF

A Odisseia Homero

Em 18 de março de 2024, chegamos a  7.652 downloads deste livro. 

:: Baixar PDF

:: Baixar o e-book para ler em seu Macintosh ou iPad

Uma palavra depois da outra


Crônicas para divulgação científica

Em 18 de março de 2024, chegamos a 13.753 downloads deste livro.

:: Baixar PDF

:: Baixar o e-book para ler em seu Macintosh ou iPad

Novos Livros

 





Perfil

Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

Leia Mais

Publicações

Do Campo para a cidade

Acesse: