O Segundo Sol

Como se sofre nessa novela “O Segundo Sol” de João

Emanuel Carneiro ( Avenida Brasil, 2012).  Alguém há de dizer : “Novela é assim mesmo, tem de ter muitas lágrimas!”.  Mas me ocorre perguntar: “Será que tem de ser assim mesmo ? Será que pra ser boa uma novela tem de despertar muito sentimento de pena, muita revolta pelo sofrimento que o vilão infringe na mocinha ou no casal romântico? Sua trama tem de ser uma sucessão de  eventos tristes para somente no final raiar uma luz, uma  esperança e todos ficarem felizes?

Há novelas que romperam com esse esquema. A mais criativa delas talvez ainda seja “Beto Rockfeller” de Bráulio Pedroso, exibida em 1968. Outra novela antiga de poucas lágrimas foi “Pantanal” , grande sucesso de Benedito Rui Barbosa  nos idos de  1990.

Em “ O Segundo Sol”, a protagonista, Luzia, não teve uma trégua : já foi forçada a abandonar os filhos;  Refugiou-se na Europa; foi acusada de matar o marido e,  no momento, é vítima de chantagem e forçada a abandonar o homem que ama. Teve ainda o seu filho roubado no nascimento e criado por outra mulher.

A vida de sua irmã, Cacau, é menos trágica, mas  Cacau  agora se deu conta de que o seu amante  é um frouxo,  que optou por abandoná-la para conservar seu emprego e a alta renda. É bem verdade que esse sujeito,  Edgar,  é um fracassado e o emprego  o vem  ajudando a conquistar um pouco de autoestima, destruída pela ação deletéria  do pai prepotente.

Tudo isso num clima de casa grande e senzala, em que o senhor da casa grande   tem filhos com a escrava doméstica.  No caso são dois filhos, um negro como a mãe e outro branco como o pai, o que não se estranha em pleno século XXI, graças ao progresso dos estudos de Genética.  O filho negro do ‘senhor de engenho’  ficou milionário, com negócios escusos na África, provavelmente contrabando de diamantes.  Já o filho branco é esse tíbio e  incapaz , um perdedor nato.

A novela ainda tem outras tramas : as duas mulheres que assumem seu romance homo afetivo, revoltando o pai de uma delas, justamente da que fica grávida pelo processo de inseminação. A esposa submissa que começa a ter sucesso profissional e ousa confrontar o marido. A jovem drogada, a cafetina e  as moças e moços que ela agencia. Sem esquecer  o drama do jovem músico  tido como morto, mas que escapou  do acidente aéreo.  Tudo isso nas belíssimas paisagens de Salvador, mas confesso que as belezas naturais da cidade acabam  por ser toldadas por tantos dramas.

Dito isso, confirmo que vou continuar a ver a novela, porque nada como um dia depois do outro, especialmente nas telenovelas.

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