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Rodrigo Fonseca 

23 de agosto de 2019 | 09h44 

Documentarista paraibano, mestre absoluto da representação do Real em nossas telas, investiga histórias de um importante militante de esquerda que criticava a luta armada

Rodrigo Fonseca

Maior documentarista em atividade no cinema brasileiro, com 84 anos de sabedoria pra investir em projetos sobre as controvérsias morais da América Latina,  o diretor paraibano Vladimir Carvalho, reponsável por cults como “O País de São Saruê” (1971), anda pelo Rio de Janeiro meio nervoso, correndo contra as adversidade do Tempo para finalizar  “Giocondo Dias: O Ilustre Clandestino”. Seu atual projeto fala sobre o militante de esquerda que  foi secretário geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se posicionou contra a luta armada.  O aclamado realizador diz que Giocondo chegou a se reunir por dez horas seguidas com Carlos Marighella, o guerrilheiro baiano retratado por Wagner Moura em um longa que o ator (e agora também cineasta), lança por aqui em novembro. A reunião com Marighella era uma forma de Giocondo demover o amigo de continuar no combate armado. “Ao final do papo, Dias saiu da sala dizendo ‘desisto!’. Dois meses depois, Marighella foi assassinado numa emboscada”, conta Vladimir, que adiantou detalhes de seu novo longa-metragem neste papo com o Estadão.

Quem foi para você a figura do Giocondo? Vladimir Carvalho: Ele foi para mim de um simbolismo total. O encontro dele com a história coincide com a decadência do Partido Comunista a partir das posições do Prestes, posições que são absolutamente criticadas hoje, às vezes até um pouco fora da realidade. Criticadas de uma forma um pouco criteriosa demais, muitas das vezes perversa. Mas ele foi isso. Ele foi quem reconstruiu o Partido, foi quem trouxe o Partido para a realidade no momento da transição da ditadura para o estado de direito.

Qual é esse projeto que você está concluindo agora? Vladimir Carvalho: Fala sobre uma figura pela qual eu me apaixonei, chamada Giocondo Dias, um comunista da linha mais tradicional, mas que tinha uma posição política pautada pelo diálogo, que apostou na democracia, sem nada de luta armada. Isso me apaixonou bastante, porque ele viveu pelo menos dois terços da vida dele na clandestinidade. Isso é uma coisa terrível. Viveu sofrendo, escondido a vida inteira. E quando finalmente o partido conquistou a pra si a liberdade de que ele precisava, nos anos 1980, a conquista já não tinha mais sentido para ele. Era a redemocratização. Mas ele não viu, porque meses antes ele veio a falecer. Eu me apaixonei pela convicção dele. Ela me levou a fazer “O Ilustre Clandestino”.

 

Qual é o sentido de se fazer um filme sobre um herói comunista no Brasil de hoje? Vladimir Carvalho: É quase uma paleontologia, um palavrão danado, mas é algo necessário, porque restaura um pouco a história. O Partido, você sabe, faz parte da cultura brasileira. Você pode contar dezenas intelectuais de grande calibre, que eram comunistas. Tem o Oscar Niemeyer, Portinari, Alberto Passos Guimarães, o Mário Schenberg, nosso grande físico… enfim, há uma infinidade de pessoas que eram comunistas de carteirinha. Então, com essa gente boa toda em suas fileiras, o partido não pode ser ignorado. Esse Partido, que possivelmente não exista mais hoje, foi uma página importantíssima da história do Brasil.

Existem imagens em movimento de Giocondo Dias? Como está sendo achar imagens dele? Vladimir Carvalho: Está muito difícil encontra-las, pois, tradicionalmente, o Brasil não cultivou essa história da memória visual e ela foi para o espaço. Isso é uma dificuldade enorme. Estou fazendo um filme que é mais a visão de pessoas que o conheceram, pessoas com quem ele se relacionou. Essas pessoas são membros do PCB, o Partido Comunista Baiano. Teve uma hora que o comitê central era assim, Jacob Gorender, ele próprio Giocondo Dias, o Mario Alves, o próprio Marighella, todos baianos. Inclusive o Jorge Amado passa por aí.

O que é para você, nesse momento de tensão política em nosso audiovisual, continuar fazendo documentário? Qual é o papel do formato nesse momento em que o cinema brasileiro está se quebrando? Vladimir Carvalho: Veja, há uma certa pendencia na nossa ficção: talvez, por uma visão meio atrofiada da nossa realidade, a ficção passou a “ficcionar” a tal ponto que nos perdemos o fio da meada histórica do país. O fio da meada é a própria realidade, seja ela social, política. E ela, a realidade, nunca esteve tão à mostra, é como se fosse um nervo exposto, um osso exposto, uma fratura. A gente está passando por isso. É preciso estarmos ligados e documentar.

Você está trabalhando traduzindo memória em imagem. Qual é o lugar da imagem, no cinema documentário geopolítico que você faz? Vladimir Carvalho: É essencial, porque ela traduz todo um estado de espírito da nação, dos indivíduos, do próprio processo pela democracia, pela liberdade de direito humana.

Onde resiste a poética das suas imagens? Vladimir Carvalho: Eu trabalho no seguinte: antes de tudo, vem que está à minha volta, de concreto. Ali, a carga poética é praticamente inerente. Na edição, você vai trabalhando o seu material de modo a chegar a uma poética também da política.

Qual a diferença entre a política e a poética? Vladimir Carvalho: É que a poética é eterna, é inerente. A política ela é acidental, muitas vezes.

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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