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Soube ontem pela imprensa que livros distribuídos pelo MEC a alunos do
Ensino Fundamental de escolas rurais apresentavam erros de Aritmética básica, em continhas de somar e diminuir. Imagino que muitos associaram essa notícia à polêmica recente sobre o livro didático de Língua Portuguesa, que abordava a variação linguística e foi distribuído aos cursos de EJA.

É razoável que a sociedade considere a Língua Portuguesa como uma disciplina escolar, paralela à Matemática, Geografia; Estudos Sociais e outras.  Mas convém pensarmos um pouquinho sobre esses fatos recentes.

A cultura de um povo contém muitos componentes que, pela sua própria natureza, são variáveis. Por exemplo, hábitos alimentares, métodos de criação de filhos, formas de lazer e muitos outros. A língua de uma comunidade, como temos visto amplamente, é uma dessas áreas culturais sujeitas a muita variação. E vimos mais: a variação linguística é um recurso que temos de aprender a usar para circularmos com segurança pelos inúmeros espaços sociolinguísticos que se nos apresentam, no desempenho dos mais variados papéis sociais.

O livro de Língua Portuguesa que causou tanta polêmica procurava justamente mostrar aos alunos que a sociedade brasileira, como qualquer outra, convive com modos  diferentes de falar. Essas diferenças têm sua funcionalidade e são regidas por normas linguísticas e sociais. Os linguistas chamam de diglossia essa distribuição funcional dos variados  modos de falar de acordo com as situações, eventos ou até mesmo atos de fala.

Há também em uma cultura componentes mais rígidos, mais dogmáticos. No campo religioso, por exemplo, existem  comportamentos regidos por normas fixas. Tem sido assim no Ocidente desde o Decálogo de Moisés.  O Código Civil é outro exemplo de comportamentos que admitem pouca flexibilização.  No próprio âmbito dos estudos da linguagem, temos a ortografia, que é um conjunto de regras, algumas arbitrárias, elaboradas ao longo de séculos na história da língua. São poucas as palavras que podem ser escritas de mais de uma maneira.  Costumo dizer que, enquanto a modalidade oral da língua é uma província aberta à variação, a modalidade escrita está sujeita à rigidez ortográfica, bem como a regras próprias da textualidade escrita.

O que falar então das ciências exatas, a começar, conforme nos ensinou Augusto Comte, pela Astronomia e Matemática? Quando ensinamos na escola Aritmética básica às crianças, não podemos  fugir a certos axiomas. Ao somar dois números o resultado será sempre o mesmo: 7 + 5 não é igual a 11 ou 13. O resultado dessa conta é 12.  Podem variar os algoritmos no raciocínio. Mas o resultado final é sempre o mesmo.

Por isso me preocupei muito com os erros em continhas de adição e subtração nos livros de Matemática, principalmente porque eles se destinavam a escolas rurais, que até algum tempo atrás nem recebiam livros. É claro que os professores sabem fazer corretamente aquelas continhas, mas eles têm por hábito confiar muito no livro didático e raramente o revisam, para ver se está tudo correto. Às vezes percebem um erro eventual já em sala de aula.

É claro também que os autores e os revisores dos livros referidos sabem fazer as tais continhas. Se elas estão erradas é porque houve pouco cuidado  na elaboração e na revisão dos livros. E não é só matemática.  Um livro de Geografia não pode afirmar, por exemplo, que a capital do Paraguai é La Paz, e um livro de História não pode confundir datas e nomes.  Por isso o processo de licitação para a compra de livros didáticos é longo e envolve muitos professores especialistas. Há os que elaboram os livros e há os que os avaliam, tudo isso antes de o Ministério da Educação submetê-los à escolha dos professores do Ensino Básico.  O MEC é um dos maiores compradores de livros do mundo, só comparável aos governos da China e dos Estados Unidos e por isso movimenta em grande escala o mercado editorial brasileiro. Não é aceitável, portanto, que os livros cheguem as nossas escolas com erros, deficiência, defasagem de informação ou inadequação de estrutura textual, que muitas vezes não leva em conta o desenvolvimento cognitivo e o conhecimento de mundo dos alunos a quem se destinam.

O PNLD, Programa Nacional do Livro Didático, que é uma das maiores conquistas brasileiras, tem de ser conduzido mais cuidadosamente.  As nossas crianças não podem receber livros inadequados, incorretos ou ineficazes. 
Quanto a isso estamos todos de acordo, independentemente de cor partidária e do partido político que vença as eleições e  se responsabilize pelo Governo do País.

 

 

Stella Maris Bortoni-Ricardo (Professora Titular de Linguística, UnB/Faculdade de Educação)

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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