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Roberto Klotz
2 h · 
 

TEXTO NA GAVETA

Sou um texto mal visto. Durante muitos anos repouso no escuro da gaveta. Lá ninguém se importa com o meu gênero. Na confusão de papéis ninguém liga se sou romance, novela, conto, crônica, artigo ou um rascunho amarrotado.

O autor queria que eu fosse um conto, mas desde as primeiras linhas mostrei a minha tendência para crônica.

Para ser conto eu deveria ter um conflito. Eu não tenho conflito. Tenho medo de sair da gaveta, é só isso. Desde sempre eu desejava desfilar num livro do Rubem Braga, estaria no meio de iguais.

— Quem sabe, até seria elogiada?

Os homens tem mania de rotular, de dizer que isso é cadeira de balanço, aquilo é carro de passeio, aquela é lâmpada fluorescente.

— Sobrou para mim!

Já houve quem me julgasse fábula, — Ora, vejam só — julgaram a partir de uma olhadinha rápida, conferindo meus travessões. Pensam que sou fábula porque emito opiniões como cigarras, formigas, elefantes. — Puro preconceito! É característica das crônicas emitir opiniões sobre tudo. Falamos sobre esporte, política, artes. Falamos sobre paixões, tristezas, encantamentos e principalmente o que ocorre no dia a dia. Qualquer coisa que faísque as ideias. — Sou crônica!

Sou crônica e não sou doente. Não é minha opção ser crônica. Nasci crônica. Cresci crônica. Não há aconselhamento religioso, psicológico ou psiquiátrico que mude meu gênero ou que me transforme em conto.

— Na verdade, não estou nem aí. Estou me lixando! Os romances, as novelas e os contos deitam seus textos em inúmeras, incontáveis páginas. Eu não. Sou rapidinha. Bastam algumas linhas e saio feliz da vida, desfilando nas páginas dos jornais.

Sou exibida, sim. Todos os dias abro o guarda-roupas para escolher do cabide alguma coisa que combine com o meu astral. Alguma metáfora vermelha, uma ironia listrada ou, quem sabe, uma prosopopeia de bolinhas. Depois abro a minha caixinha de acessórios escolho algumas pulseiras poéticas e um brinco de humor leve.

Por outro lado, fico furiosa, quando me vêem lindinha, cheia de charme, e me olham do título ao rodapé e comentam:

— Que letras redondinhas! Que parágrafos sarados! Que desperdício!

— Quer saber?

— Sou crônica porque falo na primeira pessoa. Eu assumo o que penso.

— Sou crônica porque tenho opinião.

— Sou crônica porque, apesar do momento de estranhamento, tenho bom humor.

— E tem mais — percebeu com abaixei o tom da voz? — procuro cativar os leitores com meu jeitão de pensar. Faço de tudo para o leitor se identificar com as minhas maluquices.

— Gosto de iniciar uma discussão, uma polêmica, um questionamento. Mas não é para brigar. Fico feliz quando, durante o cafezinho, voltam para o assunto que eu provoquei.

— E sabem o que mais? — Sou crônica porque me fecho com final surpreendente. Tanto que agora que já disse o que pretendia, saio da gaveta fantasiada de carta. Pulo dentro de um envelope e viajo para longe do olhar dos rotuladores.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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