A Brasília que não lê

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Escrevo hoje com a intenção de obter a solidariedade de quem já teve a carteira ou a bolsa furtadas na rua. Não estou falando de assalto, sequestro relâmpago ou de outras modalidades de roubo com violência, que são experiências mais traumáticas e mais perigosas. Falo do batedor de carteira, ladrãozinho   vagabundo cuja arma é apenas a esperteza, aliada à habilidade de prestidigitador , para enfiar a mão nas bolsas dependuradas nos ombros das mulheres ou no bolso da calça ou bermuda dos homens, sem que os donos percebam os seus movimentos e a sua intenção. Quando se dão conta é tarde, o meliante já está longe e não raro já escolheu o que lhe interessava, no butim, geralmente dinheiro. Cartão de crédito e algum documento para validá-lo, e jogou fora o resto pois não vai cometer o vacilo de ser pego em fragrante.

Há poucos dias furtaram minha carteira no ônibus. Evito andar de ônibus, mas era um trajeto tão curto, que me  arrisquei. Estava viajando de pé, porque o ônibus estava cheio. Percebi quando um homem de meia idade me empurrou, sem violência. Ainda lhe perguntei se ele queria alguma coisa. Me respondeu que já estava descendo, na parada seguinte e queria se aproximar da porta. A parada seguinte também era o meu destino. Saltei do ônibus, atravessei a rua em direção ao shopping e só quando encontrei o caixa eletrônico do banco que eu procurava, percebi que a minha carteira  já não estava comigo. Demorou um pouquinho a ‘cair a ficha’, pois minha bolsa, um belo trabalho de artesanato de tecido bordado, estava intacta, sem nenhum rasgão ou corte.  O cara tinha enfiado a mão na bolsa que estava no meu ombro e pegado a carteira,  e tudo que percebi foi um ligeiro empurrão, que interpretei como um pedido de licença para chegar à porta de saída do ônibus.

Fui cuidar então das providências de praxe: cancelar o cartão de crédito e procurar uma delegacia de polícia para fazer um b. o. _ um boletim de ocorrência, pois sem isso fica difícil conseguir segunda via da carteira de motorista que, por azar, estava junto com o cartão de crédito. Passado o susto, avaliei minhas perdas e danos e não eram de grande monta. O pior foi mesmo  a sensação de ter sido passada pra trás, de me fazerem de boba. Me lembrei do Gonzaguinha”... a gente não tem cara de babaca ... ou seria de ‘panaca’?  Imaginei o elemento pegando a condução, já com o propósito firmado, dando uma geral e me escolhendo como vítima: “Aquela ali nem é da cidade, tem cara de babaca, vai ser fácil”. O resto vocês já sabem.

A bem da verdade, tenho de admitir que não foi só em Salvador que vivenciei essa experiência. Já me aconteceu também na elegante Oxford Street em Londres. Eu havia defendido a tese de doutorado na Universidade de Lancaster, ao norte de Londres e estava feliz porque o trabalho havia sido indicado para publicação na vetusta editora da Universidade de Cambridge. Tinha de esperar uns dias que houvesse vaga em voo da Varig para eu voltar para casa onde me aguardavam três pré-adolescentes ansiosos e uma mãe muito enferma. De fato, ela veio a falecer uma semana depois que finalmente cheguei de volta a Brasília.

Decidi aguardar o meu voo em Londres, hospedada na Casa do Brasil, que ainda funcionava numa belíssima construção vitoriana em Lancaster Gate. Foi aí que resolvi fazer umas compras na Oxford Street. Eram apenas umas lembrancinhas para trazer para as crianças. Entrei numa daquelas lojas de departamento. Carregava uma bolsa em forma de meia lua, adquirida na feira de artesanato em Brasília. A bolsa era de couro e tinha zíper. Mesmo assim alguém a abriu e levou a carteira, com as poucas libras que eu conseguira economizar. Naquela época nós, brasileiros, não tínhamos  cartão de crédito válido no exterior. Foi só no malfadado governo do Collor que nossos cartões de crédito  passaram a ser válidos também fora do Brasil.  Sempre me lembro disso quando vêm à tona recordações daquele momento histórico : os caras pintadas, a encarniçada disputa entre os irmãos, as sobras de verbas de campanha _  pois é, essa história de verbas de campanha já é antiga.

Mas voltando à Oxford Street, para fazer compras eu dispunha de alguns cheques de viagem e dinheiro em cash. Foi isso que o ladrão levou.

Aqui a narrativa salta para a Cidade do México, alguns anos depois. Eu estava com três colegas. Tínhamos ido participar de um congresso internacional de Pragmática e resolvemos  esticar uns  poucos dias para fazer um turismo cultural.. Há um grande leque de opções para esse tipo de turismo no México. Visitamos mais de uma vez o Museu de Antropologia, um dos melhores do mundo na categoria, todo dedicado às culturas locais pré-colombianas.  Subimos todos os degraus de a todas as pirâmides maias ,  astecas e de outras etnias. Visitamos feiras onde comemos tortilhas e tacos, Enfim, conhecemos o que há de melhor naquele país. Eu dividia o quarto de hotel com minha colega bem no centro da capital, região mais atingida pelo  terremoto que havia destruído parte da cidade poucos anos antes.

Um dia saímos os quatro para uma pequena excursão na área urbana. Nossas opções de   transporte eram pegar um táxi ou o metrô. Eu era favorável ao táxi, mas fui voto vencido. O metrô, meus colegas argumentavam, além de ser muito mais barato é muito mais etnográfico.  Já para entrar no trem, sentia que meus pés nem tocavam  no chão. Fui sendo levada, imprensada na massa pessoas que também estavam entrando no s vagões. De repente, um dos colegas gritou:  _ Levaram minha pochete”. Lá dentro estavam todos os seus haveres: Passaporte, passagem de  avião de volta, cartões de crédito e mais ou menos uma centena de pesos mexicanos.

Saltamos do trem na primeira parada, mas nem sinal das duas mulheres que lhe haviam surrupiado a bolsa. O restante do dia passamos na delegacia do turista. A partir daquela experiência acrescentei o meu medo de terremoto ao de ser roubada na rua.

Mas nem por isso desisti de fazer turismo. Mas aprendi que não se carrega todo o dinheiro e documentos  numa mesma bolsa. Tomando alguns cuidados essas viagens trazem mais alegrias que sobressaltos.

 

 

Salvador, 10 de fevereiro de 2009

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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