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Dos editores da ÉPOCA 08.02.21
Há quem diga que, depois de mais de 80 anos, o livro Raízes do Brasil, obra-prima de Sérgio Buarque de Holanda, esteja ultrapassado em relação a algumas observações que faz sobre a formação do povo brasileiro. Mas se tem algo que continua atual em sua tese é nossa incapacidade de nos relacionarmos em escala coletiva, e não apenas individual – o que a sabedoria popular resumiu, com sagacidade, no ditado: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Não caberia neste espaço detalhar as origens ancestrais de nosso fracasso em pensarmos e agirmos como sociedade, não como indivíduos. Mas poucas vezes num espaço tão curto de tempo nosso ímpeto individualista mostrou tão fundo sua devassidão. Da indiferença em relação às milhares de mortes por uma sociedade que se aboleta em praias, bares e festas e protesta contra medidas de isolamento até o prefeito que não vê problema em ir ao estágio na final da Libertadores enquanto seus eleitores não podem gozar do mesmo privilégio.
O individualismo também se esconde sob as escamas do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que, depois de tentar uma mudança constitucional para se manter no cargo, buscou costurar um bloco político cuja premissa era mantê-lo em evidência, em vez de patrocinar um arranjo que fosse mais eficaz para impedir a vitória do candidato do governo, Arthur Lira (PP). O individualismo está no MDB que desembarcou da candidatura de sua postulante ao comando do Senado, Simone Tebet, porque ganharia mais ao virar a casaca. E está também em cada veia de Suas Excelências que estão agora discutindo o loteamento até mesmo da agência dos Correios de Parauapebas, perpetrando um nível de fisiologismo que o senador Tasso Jereissati disse jamais ter visto em toda a sua história de 40 anos como político.
Pensaram apenas em si os fura-filas que tomaram o lugar dos idosos e de profissionais de saúde nas listas de vacinação pelo Brasil, assim como os políticos que, em meio às pilhas de mortos da pandemia, não se envergonharam de participar de festa regada a bebida e música numa mansão do Lago Sul, em Brasília, em celebração à vitória de Arthur Lira. Quase ninguém obviamente, respeitando qualquer nova regra de convívio social.
Buarque de Holanda não entra na dimensão moral de nosso egoísmo e de como ele serve de porta de entrada para males como corrupção e a manutenção, sem nenhum remorso, de uma das sociedades mais desiguais de que se tem notícia. Mas, nas páginas da ÉPOCA desta semana, expomos o resultado prático dessa triste equação: em muitas das escolas particulares, o ano letivo não se perdeu com a pandemia. Alunos tiveram suas aulas online normalmente e, a despeito da falta do convívio escolar, receberam todo o conteúdo previsto para o ano. Para aqueles da escola pública, nada. Contra esse mal que torna uma sociedade menos digna – a falta de educação – não há protestos, ninguém se aboleta nem esbraveja contra. Somos mesmo cordiais.