Por todo o país, educadores, estudantes e pais buscam saídas para os problemas da educação. No sistema público, a violência e os índices de repetência e evasão são endêmicos. No ensino privado, a qualidade é inferior à média dos países desenvolvidos. Num mundo globalizado, em que a educação adquiriu um papel estratégico para o desenvolvimento das nações, algumas escolas brasileiras encontraram soluções simples que, se replicadas, poderiam mudar o quadro da educação no país. A partir desta edição, ÉPOCA começa a publicar a série Escolas Inovadoras. Serão perfis de escolas em diferentes regiões do país que encontraram novas soluções para velhos problemas. A seleção foi feita a partir de indicações de instituições que trabalham com o incentivo à educação, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Fundação Roberto Marinho, a Fundação Lemann e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anízio Teixeira (Inep). Cada inovação foi selecionada por já apresentar resultados concretos. Na primeira reportagem, analisamos os melhores exemplos no ensino público, selecionados pela Unesco. O nível médio atrapalha a imagem do ensino público brasileiro, diz Célio da Cunha, especialista em educação da Unesco. Mas há muita escola pública por aí fazendo coisas até mais inovadoras que as particulares.

Um exemplo de ação desse tipo foi adotado na rede pública do Estado de São Paulo. A idéia era aparentemente simples e até óbvia: abrir as escolas aos fins de semana, para a comunidade de alunos, pais e vizinhos. Desde 2003, a rede de 5.306 escolas, com mais de 6 milhões de alunos, passou a abrir as portas aos sábados e domingos. Uma experiência inédita no mundo. A prática começa a mostrar resultados fortes o suficiente para mexer nas estatísticas de violência. O número de ocorrências policiais no entorno da escola caiu 36% com o programa. Os melhores relatos dessas escolas foram selecionados pela Unesco para integrar o livro Dias de Paz: o Impacto da Abertura das Escolas Paulistas na Comunidade, lançado nesta semana.

A redução da violência foi conseguida graças ao esforço conjunto de professores, diretores e alunos e contou com a participação de toda a comunidade em volta da escola. Com a abertura aos fins de semana, surgiram histórias como a da escola João Kopke, que fica na Cracolândia, região do centro de São Paulo dominada pelo tráfico de drogas. Após a abertura dos portões para a comunidade de alunos pobres, alguns já aliciados pelo tráfico, imigrantes bolivianos, moradores de rua, a escola comemorou um semestre sem roubos nem invasões. É uma vitória para um colégio onde até o mastro da bandeira do Brasil já foi furtado. Em Registro (interior de São Paulo), mães que nunca tinham colocado os pés na escola obtiveram, por meio de oficinas de costura ou culinária, a oportunidade de uma atividade extra, que poderia levar algum dinheiro para casa. Na mesma cidade, adolescentes infratores foram incorporados pela Justiça local às atividades de fim de semana nas escolas. Em vez de pena na Febem, cumpriram seu castigo ajudando a sociedade em oficinas nos colégios.

Desarmamento na Brasilândia
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ATIVIDADE ESCOLAR
Crianças jogam futebol no pátio da
escola na Brasilândia. Ao
fundo, a Favela Jardim Paulistano
Quem vive na Brasilândia, zona norte de São Paulo, aprende a conviver desde cedo com a pobreza e a violência. O maior problema das crianças é a fome, diz a diretora Edna de Souza, da Escola Professor Crispim de Oliveira. Para tentar amenizar o problema, ela serve refeições extras na escola. A Brasilândia já foi o distrito vice-campeão de homicídios na capital. Tiroteios nas ruas próximas eram episódios de certa forma corriqueiros. Criança que fica na rua só vê gente vendendo droga e mexendo com arma, diz uma das mães da comunidade. A escola passou quase 23 anos com os portões trancados com cadeado e correntes. O início do ano letivo de 2004, seis meses depois da abertura da escola no fim de semana, foi uma espécie de marco: no primeiro dia de aula, o portão amanheceu aberto. À medida que a comunidade foi entrando na escola, rarearam os tiroteios no horário das aulas. O pátio já virou altar de casamento, salão de cultos evangélicos, salão para encontros ecumênicos e aniversários coletivos. A maioria dos meninos que mexem com drogas vem para a escola. Muitos têm 10, 11 anos. Garanto que nenhum deles traz armas para cá. Quando vêm no fim de semana, deixam tudo em casa. É sacrificante conviver com isso, mas o que importa é chegar neles mesmo que o resultado seja pequeno. Consegui fazer um menino de 13 anos parar de fumar maconha. Disse tantas vezes que ele é lindo e que tem condições de ter uma vida melhor que ele acabou se convencendo, afirma uma universitária que trabalha na escola.

Trecho do livro Dias de Paz,

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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