BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação
Resenhado por Ana Dilma de Almeida Pereira (UnB)
Educação
A obra está organizada em sete capítulos. Cada capítulo traz em sua introdução o objetivo do texto a ser trabalhado. Entre os objetivos, temos:
· Identificar as principais características sociolingüísticas da sociedade brasileira e suas implicações para a educação.
· Facilitar a conscientização sobre variação lingüística.
· Refletir sobre a variação lingüística no repertório dos professores e dos alunos de Ensino Fundamental.
· Levar o aluno a aprofundar sua conscientização sobre a variação lingüística e a educação em língua materna.
· Sistematizar as informações sobre a variação lingüística no Brasil.
· Introduzir os conceitos de competência lingüística e competência comunicativa e suas implicações para a educação.
· Sistematizar as informações sobre regras de variação na fonologia e morfossintaxe.
Com uma linguagem facilitadora, voltada para o professor que atua em sala de aula, ao longo de sua obra, Bortoni-Ricardo convida o professor a fazer uma leitura crítica, refletindo, discutindo, lendo outros textos e realizando atividades junto aos alunos.
Na apresentação do livro, Bortoni-Ricardo enfatiza que, após mais de vinte anos de pesquisa como sociolingüista, a produção desse material foi o trabalho que mais lhe deu satisfação. Sua primeira preocupação, no momento da elaboração, não era apenas o que iria apresentar no texto para tornar-se uma efetiva contribuição ao professor das séries iniciais, mas o que não iria incluir. Seu principal parâmetro era se aquele conhecimento acumulado na área da Sociolingüística e, mais especialmente, na Sociolingüística aplicada às questões educacionais poderia ser importante ao professor.
Uma segunda preocupação da autora foi partir de uma direção macro para uma direção micro. Direção macro, pois considera o Brasil como uma comunidade de fala, um país majoritariamente de língua portuguesa. Ela procurou se deter nas regularidades da língua portuguesa. Algumas questões conduziram-na, como as questões que normalmente são levantadas a ela, em qualquer lugar do Brasil: O professor deve corrigir ou não seu aluno quando ele fala errado? O aluno fala ou não fala errado? Se o professor considera que ele fala errado ou a gramática diz que ele fala errado, o professor ignora ou não corrige para não causar nenhum “trauma”? Sem dúvida, essas são questões que perturbam todos os professores, principalmente de duas décadas para cá.
Outra preocupação presente na obra era também responder: Quem somos nós que constituímos uma comunidade de fala de língua portuguesa e como essa comunidade se constitui ao longo do processo sócio-histórico? Bortoni-Ricardo explica-nos que ela não se constitui aleatoriamente. As características que ela venha a ter na sua variação eminente e o fato de termos algumas manifestações que têm prestígio e algumas que não têm prestígio são decorrentes do processo sócio-histórico da própria dominação de poder no Brasil, como acontece em qualquer outra nação.
A autora iniciou a produção do material nessa direção macro: o que determina a grande variação do português do Brasil. E seguindo um professor que foi muito influente na formação de lingüistas, Serafim da Silva Neto, deu ênfase ao contínuo rural e urbano no Brasil. Este trabalho está sendo revisado por ela, mostrando que a classificação apresentada pelo IBGE a respeito do que seja rural e urbano necessita de correções, pois, a par de características sócio-demográficas, há características socioculturais e sociolingüísticas.
No livro, Bortoni-Ricardo procura ilustrar esses conceitos com episódios da literatura, como os do livro “Rememórias Dois”, de Carmo Bernardes, e com episódios reais, como, por exemplo, os dados coletados a partir de trabalho etnográfico realizado em várias escolas no Brasil, sempre remetendo-os aos professores que colaboraram para a pesquisa.
A respeito da diversidade lingüística e da pluralidade cultural no Brasil, ela nos mostra: