Letícia Lins

RECIFE. Aos 20 anos, Ricardo Ramos da Silva enfrentou um problema que atinge mais de 70% dos alunos matriculados no ensino médio das escolas estaduais: a defasagem idade série. Mas a situação poderia ser pior. Com uma história de vida tão difícil, jovens como ele nem estariam estudando.

Ricardo é um dos seis alunos de escolas públicas que O GLOBO acompanhou, ao longo deste ano, para tentar traçar um panorama da educação sob a ótica dos estudantes.

Sem dinheiro para o ônibus, Ricardo chegava a caminhar por mais de uma hora, subindo e descendo ladeiras, para não faltar às aulas. Às vezes, dava até vontade de desistir, mas foi persistindo que chegou à 3ª série do ensino médio, e este mês concluiu o curso.

Fez o Enem, vestibular em uma universidade pública, vai tentar a segunda e se submeteu a concurso da Polícia Militar.

Filho de mãe analfabeta, reconhece hoje como perda de tempo a demora para se matricular no colégio, onde chegou pela primeira vez aos 10 anos. Desde então, jamais abandonou os estudos, apesar das dificuldades na alfabetização, impostas pela falta de preparo.

Teve infância difícil, marcada por violência doméstica tão grande que, aos 13 anos, fugiu de casa. Natural de Surubim, no Agreste pernambucano, penou pela casa de parentes em Recife, foi acolhido por um professor e agora mora com a mãe na capital. É que, depois que o padrasto violento morreu em acidente, decidiu voltar a morar com ela. Por isso precisou alternar os estudos com o seu trabalho nas obras da casa em Recife, onde ele e a mãe investiram R$ 5 mil que receberam de indenização pela morte do padrasto.

Apoio de ONG foi fundamental

A história de Ricardo é de superação.

Depois que resolveu sair de casa porque não suportava ver a mãe ser espancada, andou muito por Recife. Ficou com parentes, mas houve tempo em que não tinha onde morar.

Confuso e sem saber para onde ir, acabou sendo atraído para uma ONG, o Grupo de Dança Nordeste, onde conheceu Daivdson Bandeira, seu hoje professor de língua portuguesa.

Bandeira deu-lhe abrigo, um quarto para dormir e acabou influenciando Ricardo.

No segundo semestre deste ano, ele se matriculou na Escola Deputado Oscar Carneiro, porque enfrentou problemas com colegas na instituição anterior, o Colégio Joaquim Amazonas, em Camaragibe, a 14 quilômetros de Recife.

Com a mudança de colégio, Ricardo temeu ser reprovado, pois o Oscar Carneiro é bem mais rígido do que o anterior, onde no início deste semestre ele ficou um mês sem aula devido à greve dos professores da rede estadual. Temia que a mudança refletisse no aproveitamento.

Por esse motivo, além de estudar em casa, de arranjar livros extracurriculares emprestados, ainda passou bom tempo do ano em lan houses pesquisando na internet.

Aprendeu a usar computador com a ajuda de uma tia.

- Ela tirava dinheiro do remédio dos meninos para me pagar um curso, porque dizia que gente, sem o saber, não é ninguém - recorda.

Ricardo elogia o colégio, porque não faltam professores, mas admite que teve dificuldades em geografia, matemática e português e que só agora percebe que isso aconteceu porque não teve formação adequada no ensino fundamental.

Reclamou do acesso limitado à sala de informática, porque não havia funcionários disponíveis para mantêla sempre aberta. Até chegou a se oferecer para ficar como responsável pelo espaço, mas foi em vão. Ricardo fez vestibular para Letras na Universidade Federal de Pernambuco. Está esperando o resultado do Enem, para tentar ingressar no curso de educação física da Universidade Federal Rural de Pernambuco. E aguarda resultado de concurso na PM, que está sendo judicialmente questionado por alguns inscritos.

Ricardo sonha em conseguir emprego de soldado, para ajudar a mãe. Seu sonho, no entanto, vai mais longe: gostaria de estudar Letras e também educação física

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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