A crise da educação é tema constante em todos os países

 

A Tarde

“Educação é diálogo permanente e aqui, quando falamos em diálogo, tratamos deste em pelo menos dois níveis. Um no âmbito das escolas e outro no âmbito das famílias”

Nelson Pretto é professor associado da Faculdade de EducaçãoUFBA e visitante da Universidade Trent, Nottingham, Inglaterra (http:www.pretto.info). Artigo publicado em “A Tarde”, da Bahia:

Todos reclamam dos baixos índices de aprovação, da violência nas escolas, dos sistemas de avaliação que não dão conta dos desafios contemporâneos, da universidade que não prepara para o mundo profissional tampouco para a vida. Mas essa é uma crise anunciada, uma vez que pesquisas realizadas há muito já a vislumbravam.

Na Inglaterra, a situação é dramática neste final de ano letivo. Os dados apontam uma crise sem precedentes no que diz respeito à empregabilidade dos alunos que agora estão se formando. Recente pesquisa anunciou que 50% dos empregadores entrevistados não estão pensando em contratar recém-graduados.

Em função da gravidade da situação, o professor David Blachflower, ex-membro do comitê monetário do Banco da Inglaterra, alertou o governo para o que considera o maior desafio atual do país, o desemprego da juventude.

No âmbito do ensino básico inglês, o que aqui e acolá se vê são projetos e políticas públicas que buscam – sem sucesso, como os números indicam – transformar a educação e criar algum tipo de motivação para que a juventude permaneça na escola. Foi proposta recentemente a redução do número de áreas de aprendizagem de 13 – as tradicionais ciências, biologia, história, etc. – para seis, de maior abrangência, como compreensão do inglês, comunicação e linguagens, compreensão científica e tecnológica, compreensão do humano, social e ambiental, entre outras.

O interessante dessa proposta é a introdução, de forma explícita, do uso das tecnologias de comunicação, a exemplo dos blogs, twitter, orkut e todos os elementos da mídia contemporânea.

A confusão já está estabelecida, com muitas reclamações, pois, como já estamos lamentavelmente acostumados na educação, tal proposta foi pouco discutida, segundo os sindicatos docentes.

A própria mídia, que aqui tem tratado muito da educação, termina polarizando o debate entre, por exemplo, se é importante ensinar usar twitter ou Segunda Guerra Mundial e, claro, isso tem um grande efeito sobre os pais. Esse não é o ponto central e, como de costume, uma cortina de fumaça cai sobre a importância de discussões mais profundas sobre a educação.

Por outro lado, a proposta inglesa se reporta à necessidade de um currículo criativo, o que para mim é uma redundância, uma vez que tanto currículo como escola têm na criatividade e na criação seus elementos mais fundamentais.

Fala-se em inserir um fator uaauu (wow factor) no currículo, como elemento de impacto nas escolas, para prender a atenção dos jovens. Também essa é uma antiga discussão, pois não estamos aqui a falar de espetáculos, onde os estudantes precisam ser motivados e o professor tem que ser um ator – de preferência cômico, como em muitos dos nossos cursinhos – para que os alunos possam apreender os assuntos. Educação é muito mais do que isso.

Educação é diálogo permanente e aqui, quando falamos em diálogo, tratamos deste em pelo menos dois níveis. Um no âmbito das escolas e outro no âmbito das famílias. Nestas, essa prática, que deveria ser constante, em muitos casos praticamente deixou de existir, seja pelo enfraquecimento da família enquanto espaço de diálogo, seja pela própria inexistência desta.

Um intenso e permanente diálogo é conversa que flui, é um verdadeiro jogo de ir e vir, de ouvir e falar, de ceder e conceder. Mas é também o exercício da autoridade – não do autoritarismo – nos momentos necessários.

Um outro diálogo é aquele entre o conhecimento que cada um traz de sua realidade e experiência de vida com a Ciência e a Cultura, com c maiúsculo mesmo. Mas não como uma imposição destas sobre as demais ciências, saberes, conhecimentos e culturas, aqui todas em minúsculo e no plural.

A busca por essa convivência permanente entre diferenças, conhecimentos e saberes constitui-se no movimento central para a preparação dos jovens para o mundo.

E, quando falamos em mundo, estamos a nos referir também ao mundo do trabalho, mas não só a este. Falamos de um mundo que ainda nem sabemos como vai se configurar no futuro.

Necessário se faz retomar a minha preferida questão: o fortalecimento do fundamental papel dos professores nas escolas, este sim, seguramente, o verdadeiro fator uaauu da educação.

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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