“Um dicionário conceitual não é apenas uma justaposição de termos, mas um conjunto aglutinador de ideias que convocam outros conceitos e estimulam o aprofundamento dos significados”
Antonio David Cattani é professor titular de Sociologia da UFRGS e pesquisador do CNPq. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:
Dicionários temáticos especializados são importantes recursos para a pesquisa qualificada. Por serem obras de referência que identificam e conceituam temáticas complexas, eles são um convite à leitura mais aprofundada dos trabalhos relevantes, orientando a consulta às elaborações fundamentais.
Este texto busca oferecer subsídios à avaliação considerando dois aspectos relacionados aos dicionários conceituais: suporte e conteúdo.
Com a difusão dos meios eletrônicos e, em particular, do sistema de buscas Google e da Wikipedia, as pesquisas feitas pela Internet parecem permitir o acesso instantâneo e ilimitado ao conhecimento. Não obstante, permanecem os problemas relativos à confiabilidade das fontes, além das questões relativas à consistência dos conteúdos e à efemeridade de algumas páginas eletrônicas, sem falar de problemas mais graves tais como falsas qualificações, embustes e sabotagens.
Especialmente quando se trata de matéria científica, uma edição impressa com editor e autores credenciados assegura a integridade da informação.
Existem dimensões essenciais relacionadas à difusão e permanência dos textos impressos, à possibilidade de leitura independentemente do acesso eletrônico e ao fato de autores e leitores processarem criativamente o conteúdo.
Para os autores, o texto é resultado da mediação entre uma intenção, entre algo ainda inexistente, e os recursos da linguagem. O texto maturado, não-regido pela pressão do imediatismo, pode surpreender o próprio autor e fazer avançar a produção do conhecimento.
Situação semelhante acontece com o leitor, que elabora novos significados, lendo e relendo determinado texto que não tenha a fugacidade e transitoriedade próprias da web. A Internet disponibiliza um universo de informações mas, ao mesmo tempo, é uma espécie de fast food do saber.
Embora sem a mesma “instantaneidade” ou “imediatidade” dos conteúdos disponibilizados eletronicamente – as quais podem ser altamente enganosas para o pesquisador desavisado, o suporte papel continua exigindo mais rigor científico dos autores e assegurando relativa confiabilidade aos leitores.
Assim como as obras clássicas, os dicionários são coadjuvantes da construção de um saber mais consistente, reflexivo e inovador. Os dicionários temáticos podem ser tanto simples registros de nomes e acontecimentos, como guias didáticos e introdutórios a questões mais amplas.
Com propósitos e conteúdos mais avançados, há os dicionários teóricos e conceituais. Essas obras seguem o preceito nomem est numem (nomear é conhecer). Conceitos são representações mentais, construções lógicas formuladas a partir da observação (empirismo) ou do conhecimento de princípios a priori (racionalismo absoluto), ou ainda de categorias de entendimento como, por exemplo, o racionalismo crítico de Kant e o racionalismo dialético de Bachelard.
O ato de nomear um fenômeno, condição para conhecê-lo, pode se limitar a uma simples descrição da ordem formal da realidade. A tendência empirista-positivista toma o real como lógica, a forma como essência e, assim, procede à compreensão da realidade como um processo de contemplação de uma ordem pressuposta como estática e natural.
A construção dos conceitos pode valer-se de outra metodologia que reconhece a relação sujeito-objeto e a realidade como totalidade e unidade de movimentos contraditórios.
Neste caso, o conhecimento não depende de construções axiomáticas nem atende a necessidades taxinômicas, mas constitui um processo que, apreendendo o conjunto das conexões internas do fenômeno, contribui para o estudo dos conflitos e contradições. Pode-se, assim, determinar suas potencialidades, suas possibilidades, enfim, o seu devir.
Conceitos são teorias em síntese. Apresentá-los de maneira clara e precisa é o grande desafio dos dicionários conceituais especializados. Eles precisam fazer a conexão entre noções abstratas e a realidade concreta de processos pertinentes e relevantes; precisam ir além das descrições factuais e das percepções subjetivas, articulando conceitos afins e contrastando-os com outros antitéticos.
O desafio mais importante corresponde ao conteúdo autoral, já que os verbetes não são resumos simplificadores, mas elaborações complexas e originais, traduzindo os aportes de cada escritor para fazer avançar o conhecimento.
Em face da grande diversidade e riqueza das publicações, as Comissões de Avaliação Qualis terão uma valiosa e complexa missão. Seria importante que o caráter específico de alguns dicionários, especialmente nas Ciências Sociais, fosse levado em conta, tanto no que tange a certas obras como um todo, como no caso dos verbetes.
Os temas, embora apresentados separadamente, denotam princípios teóricos e explicações que adquirem sentido na inter-relação com os demais verbetes. Assim, um dicionário conceitual não é apenas uma justaposição de termos, mas um conjunto aglutinador de ideias que convocam outros conceitos e estimulam o aprofundamento dos significados.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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