O professor e a construção do

conhecimento

Maria da Guia Taveiro Silva (UEMA)

“[...]o senso comum representa uma dimensão do

conhecimento que não deve ser descartada [...]”

(BORTONI-RICARDO)

O Professor Pesquisador é mais uma obra da

professora Dra. Stella Maris Bortoni-Ricardo, uma das

mais renomadas linguistas do Brasil, que atua mais

especificamente na área da sociolinguística e

etnografia. É professora titular emérita de linguística da

Universidade de Brasília e docente e pesquisadora da

Faculdade de Educação da mesma universidade.

A obra, embora se trate de uma introdução,

como diz o título, contém excertos importantes que

esclarecem e exemplificam a pesquisa sob dois

paradigmas: (a) positivista e (b) interpretativista, ou

seja, quantitativa e a qualitativa. Os professores que

estão em atividade eou em formação inicial ou continuada formam o público alvo.

A intenção da autora é estimular os professores à produção do conhecimento

científico, para que o professor pesquisador não se veja apenas como um usuário de

conhecimento produzido por outros pesquisadores, mas se proponha também a produzir

conhecimentos (p.46). Ela apresenta os dez princípios básicos da metodologia da pesquisa

qualitativa e almeja que os profissionais, leitores da obra, se apropriem desse

conhecimento e se tornem aptos a ler e a compreender relatórios de pesquisas e artigos

científicos, e que transformem a prática pedagógica, visando o desenvolvimento do

alunado.

Foto: Chico Ferreira

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor

pesquisador. São Paulo, Parábola,

2008. 135p.

O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa

Volume 1 – Número 2 – Ano I – nov2008

79

Os dez princípios a que a autora faz referência são os apresentados em um projeto

de alfabetização de crianças programado pelo município de Sobral no Ceará (INEP, 2005),

a saber:

(1) A criança precisa falar

(2) A criança precisa agir

(3) A criança precisa brincar

(4) A criança precisa ter limites

(5) A criança precisa trabalhar em grupo

(6) A criança precisa desenhar

(7) A criança precisa ouvir histórias

(8) A criança precisa contar histórias

(9) A criança precisa ler e escrever

(10) A criança precisa ser estimulada

(INEP, 2005 citado em BORTONI-RICARDO, 2008, p. 89.)

A obra é o volume 8 da série “Estratégias de Ensino”, da Parábola Editorial. É

composta por uma introdução, 11 capítulos e um índice onomástico de assuntos, que

possibilita a localização de um determinado assunto com mais rapidez.

A introdução trata da pesquisa científica. Nela a autora faz referência à importância

da ciência e do pensamento científico na vida do ser humano, e mostra que as pesquisas

influenciam desde a produção de alimentos aos mais simples detalhes de quase tudo da

nossa vida. Ela menciona a revolução que a ciência ocasionou no mundo, provocando

mudanças diversas e o estabelecimento de novos paradigmas. É ressaltada a importância da

pesquisa em sala de aula para a compreensão e a solução dos problemas inerentes ao

ensino e à aprendizagem, esclarecendo, ainda, que a pesquisa, nesse contexto, pode ser

realizada em qualquer um dos paradigmas: quantitativo ou qualitativo, que são as duas

principais tradições no desenvolvimento da pesquisa social.

No que tange ao positivismo, este inicialmente era empregado somente nas ciências

exatas, porém no início do século XIX ele começou a ser utilizado nas ciências sociais.

Duas características do positivismo são consideradas marcantes, a primeira delas é a

precisão e a outra é o distanciamento que se estabelece entre o sujeito, o pesquisador e o

que ele se propõe a pesquisar.

Por sua vez, a pesquisa qualitativa é mais recente: surgiu no século XX, quando

ocorreu um desenvolvimento científico significativo. Apesar das pesquisas, que adotam

esse paradigma, na maioria das vezes, exigirem do pesquisador uma imersão no campo de

pesquisa, participação no contexto onde ela é desenvolvida e uma interpretaçãoanálise

muito dependente da sua subjetividade, ela vem cada vez mais ganhando credibilidade. E

Resenha

Revista de Letras da Universidade Católica de Brasília

80

isso se deve à minuciosidade que, de certa forma, resulta também numa maior “precisão”

na apreensão da realidade. Essa metodologia de pesquisa se deve muito à filosofia e à

sociologia, onde ela tem suas raízes alicerçadas. Um dos teóricos mais citados, pela autora,

é o americano Frederick Erickson.

Como etnógrafa e exímia pesquisadora, a autora dá uma verdadeira aula das rotinas

de pesquisa. Pode-se dizer que a obra é um “manual” detalhado de como se proceder em

cada passo de uma pesquisa, especialmente, a qualitativa.

Para Bortoni-Ricardo a pesquisa deve ser iniciada “com perguntas exploratórias

sobre temas que podem constituir problemas de pesquisa” (p. 49). O pesquisador deve

refletir sobre tais temas e eleger um deles. “A definição de um tema e a proposição das

perguntas exploratórias são duas etapas iniciais muito importantes”, pois para se realizar

uma pesquisa deve-se ter clareza do que se quer investigar (p.50). O exame de literatura

pertinente também é fundamental e indispensável nessa etapa. No decorrer da investigação,

é possível retomar qualquer parte da mesma, desde que surja uma necessidade e haja uma

justificativa para tal, podendo até mesmo todo o processo sofrer alteração. Quando a

pesquisa exige alteração de procedimentos é com o objetivo único de produzir resultados

mais próximos da realidade, ou seja, mais fidedignos.

No professor pesquisador... pode-se perceber que desde a geração de registros e a

transformação deles em dados até a análise conclusiva desses dados, se estabelece um

percurso sem uma divisão rígida de etapas. O processo deve sofrer constante avaliação. O

registro das informações que geram os dados e a análise preliminar dos mesmos acontece

concomitantemente e, é exatamente esse fato que cria a possibilidade de alteração.

Além das duas etapas já mencionadas, a autora explicita outras que são muito

importantes, como o planejamento das ações, a elaboração dos objetivos e das asserções a

associação das asserções aos dados, a coleta e análise de dados.

A obra de Bortoni-Ricardo oferece ao leitor nove pré-projetos de pesquisa

desenvolvidos por suas orientandas de Mestrado e Doutorado, alguns já concluídos e

outros em andamento, os quais se constituem em bons exemplos que podem servir como

orientação e estímulo tanto para professores pesquisadores mais experientes como para

aqueles que são iniciantes.

O último capítulo ressalta a importância das redes sociais para a análise qualitativa.

A autora entende rede social “como o conjunto de vínculos entre os membros de um

O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa

Volume 1 – Número 2 – Ano I – nov2008

81

grupo” e diz que nesse paradigma “as relações interindividuais se tornam mais importantes

que os atributos dos indivíduos” (p. 121).

Características socioculturais e sociolinguísticas de um grupo social, segundo

Bortoni-Ricardo, podem ser explicadas por meio da análise de redes sociais. “Quando uma

comunidade está inserida numa outra maior e seus limites não são claramente

estabelecidos” (p.124), o pesquisador pode iniciar a pesquisa por indicações sociométricas.

Para a autora, as indicações sociométricas consistem na obtenção de informações,

iniciando por um interlocutor, que cita outro e, assim, nessa prática sucessiva, pode-se

alcançar um número ideal de interlocutores e uma quantidade suficiente de informações

para a realização da investigação.

Não há dúvidas de que se trata de uma obra muito interessante e agradável para se

ler, pois o texto é dinâmico, informativo, formativo e indispensável para professores e

pesquisadores. A obra se torna mais interessante pela adoção de “lembretes”, “links”,

“chamadas” e sugestões de investigação de determinados termos utilizados pela autora no

texto. Assim, constitui-se um material vasto e rico para quem quer ser um pesquisador, ou

para quem deseja simplesmente compreender melhor relatos de pesquisa.

Maria da Guia Taveiro Silva É Mestre em Educação pela Universidade de Brasília e professora auxiliar da Universidade Estadual do

Maranhão - Centro de Estudos Superiores de Imperatriz. Atualmente cursa Doutorado em Lingüística pela Universidade de Brasília.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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