Hoje, em pleno domingo,  sabe-se lá por que, acordei às 5 horas da manhã, o que é absolutamente contra os meus princípios. Talvez seja pelo efeito de algum controle remoto, pois hoje terminou o nada popular horário de verão de 2009, no centro-sul do país. É bem verdade que aqui em Salvador, onde estou há quase um mês, não há horário de verão.

 Ohei pela janela da frente e me deu vontade de ir caminhar, e aproveitar a brisa muito fresca que soprava do mar. Pensei nisso e, ato contínuo, já estava no  portão do condomínio, pronta para atravessar a rua e chegar à calçada da praia.

E para minha surpresa,  cheguei a uma praia muito diferente da usual; a rua também estava diferente.

Era como se, viajando no tempo,  eu tivesse também me transportado no espaço.

Pelo andar da carruagem, estou achando que , para escrever esta crônica, vou ter de aprender primeiro a teoria da relatividade de Einstein, mas temo que as leis da  probabilidade joguem  contra a conclusão do texto. De qualquer forma, mesmo sem me arriscar pela física  quântica , posso passar algumas impressões sobre a Piatã que  descobri hoje às 5 e meia da manhã. O dia estava muito claro, e a brisa era espantosamente fresquinha. Atravessei a rua no semáforo, que por aqui chamam, como em Goiás, sinaleiro. Mas nem precisava de sinaleiro. Na pista de rolamento, passavam poucos carros.

No calçadão da praia, há duas vias: uma ciclovia e outra pista  para pedestres.  Encontrei alguns ciclistas e atletas madrugadores correndo.  Havia corredores de todas as idades, todos com aquela aparência  saudável, que manda  recado: “Vejam, eu sou atleta, eu cultivo bons hábitos”.

 As barracas da praia estavam acordando, o pessoal que trabalha ali arrumava algumas mesas na areia, que, por sinal, estava deserta. Nem os habituais jogadores de futebol haviam iniciado as peladas. No mar, que me pareceu mais azul, talvez pelo reflexo da luz mais tímida do sol, uns rapazes, a cerca de uns vinte metros da areia,  preparavam-se para pegar ondas.

Andei mais de dois quilômetros e depois retornei.  Em todo o percurso não encontrei um ambulante sequer, oferecendo picolé, queijo assado ou caldo de cana. Aparentemente, os madrugadores, que chegam à praia antes das seis da manhã não são consumistas e o intenso comércio de alimentos e bugigangas só tem início mais tarde.

Na volta, resolvi conferir se os jornais diários e os semanários distribuídos aos domingos já haviam chegado. Mas a revistaria, que fica junto ao posto de gasolina, no espaço conhecido como Placafor, referência a uma antiga placa da Ford, estava fechada.  Também na quitanda, onde compro frutas e legumes,  não haviam  levantado a porta de metal.

Na entrada no condomínio, o porteiro me olhou intrigado. Talvez nunca tenha me visto caminhando tão cedo.  Se eu não estivesse de short e chapéu,  ele não saberia se eu estava chegando ou saindo.

Em compensação, os pássaros, que são condôminos dos coqueiros que nos cercam,  já tinham começado sua faina diária. Aproveitam as horas antes que o sol  esquente muito para ir às compras, nos gramados, onde garantem sua sobrevivência. É bem verdade que os cupins, cientes disso, amontoam muita terra em volta dos buracos em que se escondem. Àquela hora, não vi cupins, a salvo dos passarinhos, que ciscavam longe dos cupinzeiros.

Retornei a minha casa, para tomar o café da manhã. É incrível como a manhã foi longa. Tão longa que passou pela minha cabeça a ideia esdrúxula de adotar o hábito de acordar às cinco horas da manhã, todos os dias, depois que voltar a Brasília. Ganharia muito tempo para trabalhar, imaginei. Mas tratei logo de afastar esses pensamentos. Não acho civilizado sair da cama antes das sete. Gosto de lagartear na cama, até sentir que estou bem acordada e pronta para enfrentar mais um dia de trabalho.  Mas valeu a experiência.

Salvador, BA, 15 de fevereiro de 2009

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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