Conto Proparoxítono
Luiz Henrique Mignone
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador... Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador >recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando...ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo. Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar...ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular: ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente... Era o verbo auxiliar do edifício ! Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente ! Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.
Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.”
Disponível em:
▪ http:www.henry.eti.brpagina.php?IdPagina=344
▪ http:www.officinadopensamento.com.brarquivosliteraistextos_selecionadosprosaconto_proparoxitono_luiz_henrique_mignone.htm
▪ http:eunaosoupalhaco.weblogger.terra.com.br200502_eunaosoupalhaco_arquivo.htm
▪ http:www.allz.weblogger.terra.com.brindex.htm
▪ http:in-between.weblogger.terra.com.br200602_in-between_arquivo.htm
(Acessados em 28102006)
Emoções que informam
Emissoras públicas usam o (aparentemente superado) formato das radionovelas para desempenhar papel educativo junto às comunidades
Naiobe Quelem
A paixão brasileira pelas novelas, eternizada na tevê, um dia já foi a sensação do rádio. Sucesso nacional nas décadas de 1940 e
“Nos últimos oito anos, a radionovela tem sido muito usada por instituições públicas e não-governamentais, para passar um conteúdo educativo. Essa linguagem funciona porque aproxima o ouvinte do assunto, à medida em que incorpora cenas do cotidiano”, explica a professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Brasília e pesquisadora Nélia Del Bianco.
Na Rádio Nacional – mais especificamente nos estúdios da emissora na Amazônia –, a radionovela retornou no início da década de 1980, cerca de quatro décadas após a transmissão de seu primeiro folhetim, Em busca da felicidade, de Leandro Blanco, adaptado por Gilberto Martins. “O Décio Caldeira começou o trabalho, mas morreu logo após a primeira produção. Dei continuidade a partir de 1985 e nunca mais parei”, conta a produtora executiva da Rádio Nacional da Amazônia, Artemisa Azevedo.
No início, a motivação era proporcionar entretenimento aos ouvintes da Região Norte, em locais onde somente o sinal da rádio chegava. Com o retorno dos ouvintes, Artemisa passou a escrever histórias sobre temas de interesse do povo da Amazônia e, ao se aproximar daquela realidade, descobriu uma rica e eficiente forma de diálogo. “O retorno entusiasmado dos ouvintes me fez perceber a força da radionovela como veículo para informar e ajudar as pessoas”, conta. O último folhetim, por exemplo, foi Chama da terra, que falava sobre as conseqüências das queimadas da Amazônia. Na segunda semana que vem, a rádio estreará uma série com cinco radioclipes (histórias contadas num único capítulo) sobre violência contra a mulher.
Mesmo com direcionamento educativo, as radionovelas se sustentam numa trama, com emoção, romance, intrigas, mocinhos e vilões. Os radioatores são os próprios jornalistas, locutores, produtores e demais funcionários da Radiobrás, inclusive da parte técnica, responsável pela trilha e efeitos especiais. Tudo sob supervisão, direção e montagem de Artemisa. Esse trabalho fez com ela fosse uma das seis brasileiras selecionadas para participar de um curso na Alemanha, oferecido pela rádio pública alemã Deutsche Welle, no mês passado. “Eles queriam nos ajudar a aprimorar a radionovela como forma de educação. Percebi que, mesmo sem ter estudado o formato, eu estava no caminho certo”, resume Artemisa.
O retorno entusiasmado dos ouvintes me fez perceber a força da radionovela como veículo para informar e ajudar as pessoas
Da equipe do Correio
HUMANIZAR A LINGUAGEM
Francisco Gomes de Matos, Comissão de Direitos Humanos Dom Helder Câmara,
Centro de Artes e Comunicação,UFPE,Recife. e-mail :
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O Brasil já possui uma Tradição Pedagógica notável,na qual destaca-se mundialmente
a significativa contribuição de Paulo Freire, através de suas obras, incentivadoras de
tantas pesquisas teóricas e aplicadas nas áreas da Educação, da Psicologia e do
Letramento (ou,para usar o termo preferido em Portugal, Literacia). Assim, no
singularíssimo The Literacy Dictionary ,edição da Associação Internacional de
Leitura (1995; nova edição impressa e on-line em fase inicial de planejamento ),
encontramos um verbete sobre Educação Emancipadora, de inspiração Freiriana.
No volume Literacy. An Introduction, do pesquisador britânico Randal Holme
(publicado pela Editora da Universidade de Edinburgo em 2004), há oito menções
ao pensamento pedagógico do autor de Pedagogia do Oprimido (traduzida em
várias línguas). Naquele livro escocês , define-se Pedagogia Participativa como