Entrevista João Ubaldo Ribeiro

Data: 04012009
Veículo: CORREIO BRAZILIENSE - DF
Editoria: BRASIL
Jornalista(s): Erica Montenegro

Assunto principal:

OUTROS

Erica Montenegro

Da equipe do Correio

Best-seller nacional, João Ubaldo Ribeiro, 67 anos, diz que não está nem aí para a reforma. Fala isso da posição de quem senta na cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e já vendeu mais de 3 milhões de livros. O baiano de Itaparica radicado no Rio de Janeiro não pretende abandonar o trema. Caso contrário, diz que teria de começar a falar linguiça com o i mais forte que o u. Na tarde de sexta-feira, João Ubaldo enviou um arquivo de aúdio ao Correio em que comenta as alterações feitas na ortografia. As perguntas haviam sido enviadas por e-mail algumas horas antes. O autor do clássico Viva o Povo Brasileiro diz que a reforma não enriquece em nada o idioma, mas que alguém enriquecerá com ela.

Apesar de afetar um grande número de palavras, Ubaldo classifica a mudança como perfunctória (praticada apenas para cumprir uma obrigação, embora inútil) e acha uma injustiça eliminar o trema. Antenado com as novas tecnologias, ele é autor do primeiro livro virtual lançado no país: Miséria e grandeza do amor de Benedita, de 2000. Com um estilo literário irônico e preocupado com o contexto social do Brasil, o autor do clássico Viva o povo brasileiro, que já ultrapassou os 120 mil exemplares vendidos, escreveu nove livros, traduzidos em 16 países, e colaborou com outras publicações. Leia abaixo alguns trechos da entrevista.

Reforma só trará despesa

Para escritor baiano, o acordo não enriquece em nada o idioma, mas alguém vai enriquecer com ele

Para o senhor, que domina as palavras, mudanças em hifens e acentos fazem diferença?

Eu não domino as palavras coisa nenhuma. Tenho é que ficar de olho nelas o tempo todo. Elas que são minhas donas. Só pareço (que domino). Quando você treina muito, dá a impressão de que aquilo que você está fazendo é fácil. Mas não é não. Para outros pode ser, mas, para mim, não. Na verdade, não (faz a diferença). Agora, já me acostumei com os acentos. Já passei por muitas reformas ortográficas, maiores ou menores. A gente lê várias línguas que têm toques absurdos, mas que a língua preserva. Outro dia, tinha gente querendo tirar o til de cima dos s e is da língua francesa, onde não tem função fonética. E foi uma grande resistência. Eu, por exemplo, sinto falta e acho injustiçado o trema, gostaria de dispor dele. E acho que a consequência (ele fala a palavra com o som de k) vai ser essa, falar assim daqui a pouco. Ninguém sabe hoje se a pronúncia correta é liquidificador ou liqüidificador, então vai piorar.

Que parte das novas regras parece mais difícil de ser absorvida?

Não sei. Varia tanto. Quando eliminaram o circunflexo diferencial, a maior dificuldade foi convencer as pessoas que você continuava a se grafar com acento circunflexo na letra e. Por algumas razões, as pessoas só entendiam que a abolição do acento diferencial se dirigia aonde não existia acento diferencial; ou seja, a palavra você. Foi um custo. À época, eu trabalhava em redação de jornal e foi trabalhoso abolir essa mania das pessoas.

Quem aprende de um jeito e tem de reaprender sente-se necessariamente ultrapassado?

Não. Acho que ninguém vai se sentir ultrapassado. Ninguém vai levar é muito a sério esta reforma. Porque, em primeiro lugar, é muito perfunctória, pequena, apesar de afetar um número grande de palavras. Para mim, não enriquece em nada o entendimento da língua com qualquer um de seus falantes. Sinceramente, não vejo nessa reforma nenhuma perspectiva realmente nova, a não ser dinheiro trocando de mãos.

Acredita que o acordo o fará vender mais livros nos outros países que falam o português?

É o pequeno motorzinho econômico da história, como querem alguns. Porque aí vamos ter despesas, com programas de texto para computador. Provavelmente, vamos vender agora para os portugueses uma versão mais veladamente distinguida das nossas obras. Vai ser uma confusão. Eu, por outro lado, se fosse português, não abdicava dos meus hábitos ortográficos, ainda mais que estou ficando velho, a não ser por coerção ou por força de revisão ortográfica.

O senhor acha que essa reforma vai pegar?

Vamos ver se essa lei cola. Tem sempre essa possibilidade, inclusive, com o reconhecimento do presidente, pode ser que cole ou cole em parte.

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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