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Distância geográfica como argumentos |
Timor-Leste: A língua Portuguesa em Dúvida |
2010-05-03 22:29:46 |
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Díli - A manutenção do Português
como língua oficial de Timor-Leste tem vindo, nos últimos meses, a ser
questionada por «várias vozes» da sociedade timorense. Na base das
críticas estão argumentos como a distância geográfica que separa o país
de qualquer um dos seus parceiros da CPLP e o facto de grande parte da
população entender as línguas dos dois principais países vizinhos
(bahasa indonésio e inglês). |
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Muitos defendem ainda que o próprio
Tétum poderia assumir em exclusividade o papel de língua oficial. No
entanto, é normalmente omitida a existência de pelo menos 15 variantes
do Tétum e muitos outros dialectos locais. Omitido é também o facto do
Tétum ser uma língua incompleta que continua a assimilar neologismos,
designadamente do Português. Hoje, a língua portuguesa é um símbolo da
identidade nacional timorense, depois de se ter tornado o principal
veículo de comunicação durante os anos da Resistência à ocupação
indonésia. Este «papel central na civilização timorense» é reflexo da
ligação existente entre o português e o tétum, segundo a expressão do
linguista australiano Geoffrey Hull, que aponta também as eventuais
consequências negativas que poderiam advir da adopção da língua de
Shakespeare para o desenvolvimento da própria língua nacional.
A
batalha da língua, muitas vezes travada na sombra do poder, ganhou novo
élan em Março com as declarações do CEMGFA Taur Matan Ruak, um
reconhecido defensor da herança nacional, a propósito do uso do
Português como língua nos tribunais. Divulgadas à exaustão como sinal
oficial de desacordo à manutenção do português como língua oficial,
saíram reforçadas pelas declarações do n.º 2 das Nações Unidas, Finn
Reske Nielsen na Conferência Internacional de Dili em Abril, em que
este questionou, de forma aberta, o uso da língua portuguesa em
Timor-Leste. Declarações estranhas para a habitual política de
neutralidade das Nações Unidas mas que foram obviamente aproveitadas
pelos anglófonos para atacar um dos elementos do património histórico
timorense.
Kirsty Gusmão, Embaixadora da Boa Vontade para a
Educação, também nomeada Presidente da Comissão Nacional de Educação
(CNE) - e esposa do Primeiro Ministro Xanana Gusmão - tem usado como
estratégia para a defesa do Tétum o ataque à língua lusa, posição
habitualmente mantida pela comunidade anglo-saxónica.
No
entanto, esta estratégia poderá acabar por se revelar a prazo perigosa.
A alfabetização na língua materna agravará ainda mais a fragmentação
linguística existente na ilha do crocodilo, expondo as divisões
etno-linguísticas que subsistem no território. Por outro lado, dada a
relação de absorção entre o tétum e o português, o afastamento do
segundo pode resultar numa vulnerabilidade do primeiro.
Paralelamente,
o afastamento do português, até agora visto como factor diferenciador
no enquadramento geo-estratégico e passível de trazer vantagens pela
integração numa comunidade de 200 milhões de falantes, esconde-se sob o
véu de uma estratégia para a educação.
A realidade demonstra as
limitações que tal estratégia pode encobrir. O relatório a apresentar,
até ao final de 2010, pelo Grupo de Trabalho para a Linguagem na
Educação, criado pela CNE, com o propósito de defesa do Tétum, pode
abrir as portas à implosão de todo o esforço de preservação da herança
cultural e histórica.
Além disso, nesta tentativa de abolição da
língua portuguesa, e de defesa do inglês e do bahasa indonésio, não
será de esquecer a interferência de novos actores, e dos seus
interesses em vários sectores, que têm vindo, progressivamente, a
assumir as suas tendências externas.
O português é hoje falado
no mundo por mais de 200 milhões de pessoas e a sua crescente
relevância no mundo moderno reflecte-se na sua adopção como língua de
trabalho em diversas organizações internacionais. Não será por acaso
que uma das portas de entrada da China em África ocorre por via do
Fórum Macau, sustentado pela partilha da mesma língua. O acordo
ortográfico veio também limar os obstáculos que travavam uma maior
expansão linguística, permitindo a sua plena assunção como quinta
língua com mais falantes no mundo, e a prazo, uma das línguas oficiais
das Nações Unidas. |
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